Folha de S. Paulo


Enxergando longe

RIO DE JANEIRO - Barack Obama sancionou uma lei garantindo a qualquer cidadão americano a posse e a exploração de recursos do espaço. Um asteroide de bobeira, por exemplo, poderá ser laçado e trazido à Terra para uma exposição em Blackfoot, Idaho. Ou a Lua ter a sua superfície raspada e recolhida em saquinhos que, postos na mesinha de cabeceira de senhoritas durante a noite, ajudarão a regularizar a menstruação. Ou sondas-espiãs se certificarão de que satélites X ou Y só poderão ser abastecidos com Sprite e não Schweppes ou vice-versa.

Um tratado de 1966, aprovado pela ONU e assinado por todo mundo, vedava a reivindicação de soberania sobre qualquer corpo celeste e reservava o uso do espaço ao bem comum da humanidade. Mas, como tudo que se refere à ONU, não era para valer. Os EUA se acham com direitos sobre a Lua, Marte e o resto da galáxia só porque Buck Rogers, Flash Gordon e Brick Bradford, nessa ordem, foram os primeiros a chegar lá, nas tiras de quadrinhos dos anos 30.

Se alguém achar que essa discussão cheira ao sexo dos anjos, engana-se. Nos anos 80, os EUA anunciaram estar desistindo do seu projeto espacial –muito caro, trabalhoso e incerto, disseram. Os soviéticos ouviram aquilo, relaxaram e também aderiram ao corpo mole. Na verdade, era só um despiste dos EUA. Eles sabiam que, de suas expedições nos anos 60 e 70, sairiam coisas magníficas –e valiosas. Continuaram a trabalhar e hoje elas fazem parte do nosso dia a dia.

Algumas: uso da energia (inclusive solar), conhecimento do clima, tomografia computadorizada, produção de robôs, vestuário térmico, sistemas de banda larga, detectores de fumaça, laboratórios compactos e até fraldas descartáveis (sim, Neil Armstrong as usava na Apolo 11).

Quem se desloca recebe; quem pede tem preferência. Os gringos enxergam longe.


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