Folha de S. Paulo


Fusões incorpóreas

O mundo da economia se mexeu: a Friboi se juntou à Alpargatas e o Viagra ao Botox. São troca-trocas que envolvem as megacorporações e movimentam uma montanha de dinheiro. Os americanos chamam a isso de "mergers", fusão entre empresas. Certo. Só que, nessas fusões, há sempre um ativo e um passivo. Nos dois casos, não é difícil saber quem absorveu quem: a Friboi papou a Alpargatas e o Viagra comeu o Botox.

Posso até imaginar os novos anúncios celebrando essas uniões. Num deles, Tony Ramos, Roberto Carlos e outros implacáveis carnívoros aparecerão de garfo e faca, guardanapo ao pescoço e já salivando, à mesa de uma churrascaria. Só que, em vez de um T-bone ou picanha, o que se verá no prato será uma sandália de dedo mal passada e guarnecida com fritas. No outro anúncio, um senhorzinho, nitidamente adepto do Viagra, ostentará bochechas de Topo Gigio e lábios do palhaço Bozo, comuns entre as usuárias de Botox.

Mas podia ser pior. Imagine se a Friboi é que tivesse comprado o Viagra -Tony Ramos e Roberto Carlos estariam posando para os anúncios do comprimido.

As fusões não levam em conta a preferência dos usuários. Você se habitua a torcer por um produto contra determinado concorrente -um dia, os dois se juntam e o seu favorito é reduzido a coadjuvante, como aconteceu quando a Ford comprou o Jaguar, a Colgate comprou a Kolynos e a Brahma comprou a Antarctica.

No passado, pelo menos, essas fusões envolviam produtos sólidos, palpáveis, comestíveis. Nas grandes fusões de hoje, não se sabe o que uma marca absorve da outra e o que faz das duas uma só. O Google comprou o YouTube, o Facebook comprou o WhatsApp e a Oi vai comprar a TIM. Trilhões de dólares mudam de mãos e, para nós, que sustentamos essas empresas, a vida segue como se nem sequer existíssemos.


Endereço da página: