Folha de S. Paulo


Coelho na cartola

RIO DE JANEIRO - A "Playboy" americana deixou de publicar fotos de nus. E daí? Já devia ter feito isto há 20 anos. Sua fórmula, e das demais revistas do gênero, ditas "masculinas", estava claramente esgotada antes mesmo que a pornografia grátis tomasse a internet.

O fato de Marilyn Monroe ter estrelado a "Playboy" nº 1 de Hugh Hefner em 1953 –com uma foto feita anos antes e de circulação nas borracharias– foi mero acaso. Na verdade, qualquer mulher bonita serviria, desde que estivesse nua e a foto tivesse algum luxo de produção. A grande vitória inicial de Hefner foi convencer o rigoroso correio americano a postar sua revista, sob o argumento de que "Playboy" era tão séria e sofisticada quanto "Esquire" –só que, em vez das pin-ups desenhadas por Alberto Vargas, continha fotos de uma ou duas garotas com os seios à mostra.

Outra vitória de Hefner foi convencer o leitor de que a garota do pôster poderia ser sua vizinha de apartamento, nunca uma profissional. Daí as fotos em preto-e-branco mostrando-a em situações "normais", fazendo compras ou cozinhando. Mas é inevitável: chega um momento em que isso deixa de funcionar, e a revista precisa investir nas grandes mulheres do cinema e da TV.

A estratégia dá certo por alguns anos. Aliás, tão certo que essas supermulheres passam a custar fortunas para se deixarem fotografar e, um dia, se tornam inviáveis. A partir daí, a revista está condenada –só lhe restam as mulheres do segundo escalão, que não interessam a ninguém. E, como deixou de investir na qualidade do editorial –entrevistas, ensaios, reportagens–, seu público regrediu à idade mental de 13 anos.

De 1953 a 1975, "Playboy" foi uma importante revista americana. Depois reduziu-se a uma revista como muitas. Agora, sem nus, e com sua marca que vale milhões, pode voltar a ser adulta e ressuscitar.


Endereço da página: