Folha de S. Paulo


O lobby no dicionário

RIO DE JANEIRO - O conteúdo transbordou do continente. "Lobby", palavra da língua inglesa, tem a seguinte entrada no magnífico "Dicionário Inglês-Português", de Leonel Vallandro, que me acompanha desde 1966: "Vestíbulo, antecâmara, sala de espera; salão de entrada; saguão de hotel; corredor (de câmara de deputados etc). Transacionar com deputados nos corredores da Câmara; fazer pressão sobre eles". De nove acepções, sete são inocentes descrições de lugar. Hoje, só os significados por extensão valeriam um verbete próprio.

O lobby se tornou prática de gente muito mais graúda, de um lado e de outro do balcão –de presidentes da República sobre presidentes da República e, pelo visto, de presidentes de grandes empresas sobre presidentes ou ex-presidentes da República. Os EUA têm o caso das relações entre Richard Nixon e a Pepsi-Cola.

Em 1958, como vice-presidente, Nixon foi à URSS vender Pepsi para os russos. Em 1959, o premier soviético Nikita Kruschev foi aos EUA e se deixou fotografar tomando Pepsi. Em 1961, já fora do governo, Nixon tornou-se advogado da Pepsi. A 21 de novembro de 1963, quando John Kennedy foi morto em Dallas, Nixon estava na cidade, em reunião com Donald Kendall, presidente da Pepsi. Nixon foi eleito presidente em 1969 e, durante seu mandato, só se tomou Pepsi na Casa Branca. Em 1972, Nixon foi à China vender Pepsi para Mao Tsé-tung. E suspeita-se que, em 1973, foi Kendall quem o mandou derrubar o presidente chileno Salvador Allende, "não importava como".

Pelos e-mails que a PF apreendeu na sede da Odebrecht, é como se Marcelo Odebrecht visse Lula como o office-boy de sua empresa junto a governos estrangeiros. Instruía-o sobre o que dizer em discursos, interferia na escolha de seus ministros.

Pensando bem, "lobby" já está merecendo um dicionário inteiro.


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