Folha de S. Paulo


Última chance

RIO DE JANEIRO - Até há pouco, era comum a queixa: "Detesto musical. Não entendo por que, de repente, o sujeito para de falar e começa a cantar". Eu respondia: "Porque se trata de um musical. Fosse um filme de caubói, ele pularia no cavalo e sairia dando tiros". Isto, quanto a musicais de cinema. Mas a incompreensão seria a mesma se aplicada ao teatro. Exceto pelo glorioso teatro de revista na primeira metade do século 20, o Brasil nunca chegou a estabelecer uma tradição de musicais.

Pois, agora, ela começa a se formar. Passamos de iniciativas pioneiras, como as de Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Edu Lobo, e fenômenos bissextos, como "My Fair Lady", com Bibi Ferreira, "Como Vencer na Vida Sem Fazer Força", com Moacyr Franco, e "O Homem de La Mancha", com Paulo Autran, todos nos anos 60 e 70, para uma produção regular e atraente, que está educando plateias e atores para esse gênero de teatro.

No início, foram as versões nacionais de musicais americanos. Nesses 20 anos, Jorge Takla, Miguel Falabella e a dupla Botelho-Moeller fizeram uma geração inteira aprender a cantar, dançar e representar, em suas montagens altamente profissionais dos clássicos "West Side Story", "A Gaiola das Loucas", "Sweet Charity" e muitos outros.

Dali passamos para o atual ciclo das biografias de cantores –Tim Maia, Elis Regina, Rita Lee, Cazuza, Cauby Peixoto. Idem, belos espetáculos, mas escorados no batido repertório musical de cada um, o que faz deles um misto de hit-parade com o antigo programa da Globo "Saudade Não Tem Idade".

A maturidade só virá com os musicais originais –com canções e letras feitas especialmente para seus personagens e histórias. Numa época em que a grande música brasileira foi banida do rádio, da TV e da indústria fonográfica, o teatro pode até ser a sua última chance de sobrevivência.


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