Folha de S. Paulo


A sós ou avec

RIO DE JANEIRO - Mais um botequim carioca fechou as portas: o Bar do Ferreira, no Leblon. Era um pé-sujo de unha feita, como na definitiva classificação do Jaguar –o bar que, por trás da aparente simplicidade, esconde alguma sofisticação. A do Ferreira estava no cardápio, escrito a giz, e consistia em tira-gostos premiados, como o caldinho de batata-baroa com gorgonzola, o rolinho de aipim e carne seca envolto em folha de couve e outros piriris.

Foi onde assisti, na Copa do Mundo, ao 2º tempo de Brasil x Colômbia, cercado pela torcida mais participante que já vi numa birosca –vaiavam ou aplaudiam até arremesso lateral. Não eram só torcedores da seleção, mas também do Ferreira. Do qual ficaram órfãos a partir desta semana.

Esse é o problema de comércios populares e delicados, como botequins, sebos, cinemas de rua, quitandas, chaveiros e que tais. Muito por causa deles e de seu charme, certos bairros ficam na moda e os aluguéis disparam. Seu movimento pode parecer intenso, mas o faturamento não condiz –quanto um armarinho não tem de vender em botão, agulha, linha, ilhós e sianinha para valer um vestido de grife no shopping?

Diz-se que o Ferreira ressuscitará como bistrô, com outro nome e visual, cardápio em francês e um público diferente. Nos bistrôs, os clientes estão sempre de dieta, mas gastam mais do que os que se entopem de torpedos nos botequins. São clientes que ligam para fazer reserva, chegam em casais ou em turma, comem, bebem e vão embora –não se demoram no estabelecimento.

Já o botequim é a cidade em assembleia permanente. Seus habitués aparecem a qualquer hora, de sapato ou chinelo, a sós ou avec, socializam uns com os outros e não têm pressa para ir embora. Isso agrega os cidadãos, ajuda a desacelerar o ritmo da cidade e a torna mais humana e oxigenada. No mínimo, é bom para arranjar namorada.


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