Folha de S. Paulo


Nota fora de hora

RIO DE JANEIRO - A Polícia Civil produziu um relatório de duas mil páginas, descrevendo uma investigação que vem realizando desde outubro de 2013 e que envolveu monitoramento de telefonemas e e-mails, análise de documentos e colaboração de informantes. O objeto da operação é o grupo que, desde junho do ano passado, vem executando ataques a prédios públicos e particulares no Rio, ferindo policiais, destruindo ônibus e fazendo do vandalismo um programa de ação.

Programa cujas ideias não se prestam a debates racionais, mas se materializam em coquetéis molotov, bombas de fragmentação, incêndios –um deles, ordenado e não executado, da Câmara de Vereadores–, promessas de execução de PMs e ameaças à imprensa. A provar que tal barbárie não é exatamente espontânea, o relatório fala de hierarquias, divisão de trabalho e disciplina, contatos com grupos em outras capitais, arrecadação e distribuição de recursos, aproximação com sindicatos, fabricação dos explosivos e arregimentação de quadros.

Como seus principais participantes já foram identificados e acusados de crimes específicos, a Justiça decretou a prisão preventiva de 23 deles, inclusive a de sua liderança mais ostensiva, a ativista "Sininho". Note-se que isso está sendo feito às claras e pelos trâmites legais, até com a possibilidade de vários acusados se beneficiarem de habeas corpus –como já aconteceu.

Daí o espanto ao se ler uma "nota de repúdio" da direção nacional do PT, classificando as prisões de "grave violação de direitos e das liberdades democráticas", falando numa "criminalização das manifestações" e repelindo a "violência de Estado".

Ou seja, o partido que detém o Poder Executivo não quer que o Poder Judiciário faça o seu trabalho. Saudade, talvez, da ditadura, quando o Judiciário também vivia sendo impedido de funcionar.


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