Folha de S. Paulo


O nome da editora

RIO DE JANEIRO - De todas as profissões que conheço, nenhuma mais delicada que a do editor de livros. O que faz alguém se dedicar a ela? O trabalho é ingrato. Consiste em receber ou disputar originais, lê-los, avaliá-los e, caso aceitos, publicá-los –o que significa contrato com uma gráfica, revisão, provas, seleção do papel e da fonte, criação da capa, texto das orelhas e, meses depois, o lançamento, a distribuição, o silêncio da crítica e, quase sempre, o lento escoar do livro nas livrarias. A única parte divertida do negócio deve ser a escolha do nome da editora.

Do século 19 até há pouco, as editoras tinham o nome de seus proprietários: Paula Brito, Quaresma, Garnier, Francisco Alves, Leite Ribeiro, Costallat & Miccolis, Freitas Bastos, Schmidt, Pongetti, José Olympio, Martins, Vecchi, Ozon, Martins Fontes, Zahar, Rocco, Cosac Naify. Quando os titulares perdiam a posse de suas editoras, os novos donos não eram bobos de mudar um nome que levara décadas sendo construído.

Desde 1940, começaram a surgir os nomes mais genéricos, mas fortes, positivos, progressistas: Civilização Brasileira, Melhoramentos, Agir. Depois vieram Lidador, Record, Perspectiva, Nova Fronteira, Artenova, Objetiva, Contexto, Sextante, Autêntica, Intrínseca e tantas mais. E, a partir dos anos 60, as que se referem ao próprio ofício: Editora do Autor, Companhia das Letras, Sete Letras, Claro Enigma, Gutenberg, Graphya, Gryphus, Casa da Palavra, Iluminuras, Best-Seller, Belas Letras.

Mas eis que surge uma nova tendência: a dos nomes poéticos e evocativos –Aprazível, Capivara, Cobogó, Folha Seca, Maquinária, Boitempo, Benvirá, Suma, Lazúli, Panda, Pandora, Barcarolla, Tapioca, Veneta, Amarilys, Ouro Sobre Azul, Peixe Grande, Três Estrelas, Biblioteca Azul, Edições de Janeiro e Céu Azul de Copacabana.

Eu prefiro todos.


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