Folha de S. Paulo


Muita batalha pela guarda dos filhos é motivada por hostilidade entre os pais

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"Filhos de pais que se separam terão problemas, obrigatoriamente?". Essa foi a pergunta de uma jovem mãe, que tem dois filhos com menos de seis anos, e que, por estar em processo de separação, sente-se muito preocupada com as consequências negativas que o fato poderá criar para as crianças.

Até pouco antes do final do século 20, era quase unanimidade entre os estudiosos que filhos de pais divorciados teriam problemas emocionais e de comportamento, os quais poderiam perdurar até a vida adulta.

É compreensível o pensamento dessa época, já que a saúde mental tem relação com o contexto sociocultural em que a pessoa vive, e foi apenas a partir dos anos 80 que as separações tornaram-se mais frequentes. Filhos de pais divorciados já foram exceções, crianças diferentes da maioria das outras, e o fato provocava, sim, consequências a elas.

A partir do momento em que o divórcio passou a ser mais comum, os filhos de pais separados perderam esse estigma social e muitos deles não apresentaram problemas emocionais devido a esse fato.

A separação dos pais provoca sofrimento nos filhos? Certamente, mas nem toda dor causa dano emocional, não é verdade? Tudo irá depender de como a separação do casal ocorre, do que é dito –e de como é dito– para os filhos e de como o ex-casal irá construir um novo relacionamento, obrigatório, já que eles continuarão sendo pais dos mesmos filhos, o que exige que mantenham uma relação. E é esse o nosso novo problema.

Já no processo de separação, principalmente quando ela não é consensual –mas não apenas nesses casos– muitos pais usam os filhos para atingir a/o ex-parceira/o. Muitas batalhas travadas na Justiça pela guarda dos filhos não têm, na verdade, relação direta com a vontade de convivência com os mais novos envolvidos, e sim com a hostilidade dos pais um com o outro.

O fato é compreensível, mas não aceitável. É que toda vez que um casamento acaba, todo um projeto de vida acaba junto, e isso provoca mágoas, ressentimentos e dor, que podem ser expressas nessa luta pelos filhos. E estes sofrem muito com isso, é claro.

Há também casais que conseguem atravessar o processo de separação sem envolver diretamente os filhos, mas não conseguem evitar críticas ao novo modo de viver do ex, e expressam suas críticas, explícita ou implicitamente, aos filhos. É assim que se constrói o fenômeno chamado "alienação parental", que faz inúmeras vítimas na atualidade, já que acaba colocando os filhos contra um de seus pais.

E vale lembrar que há ex-casais que, mesmo tendo filhos, deixam de se falar para sempre após a separação, rompendo definitivamente o relacionamento, o que, de novo, afeta as crianças envolvidas.

O nosso desafio hoje, já que o número de divórcios aumenta bastante –em 10 anos, a taxa de crescimento foi de mais de 160%– é o de poupar as crianças de perder um de seus pais nesse rompimento. Casamento acaba, mas paternidade, não.

O relacionamento entre pais e filhos dura até que a morte os separe, não é? Então, precisamos amadurecer nesse processo para permitir que as crianças mantenham o direito que têm de ter mãe e pai e de conviver com eles, mesmo que o casamento entre eles tenha acabado. Para tanto, o ex-casal precisa e deve construir uma relação amigável entre si, pelo bem dos filhos que desejaram ter.


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