Folha de S. Paulo


Namoro adolescente é uma parte da vida que não diz respeito aos pais

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As peças publicitárias anunciam que mais uma data do mercado de consumo está chegando: o Dia dos Namorados. Vamos conversar a respeito dos namoros dos filhos e da participação dos pais nessa história da vida deles? Para isso tenho, como sempre, dois bons exemplos reais para nos ajudar.

Carolina tinha 15 anos quando começou a namorar um colega da escola. O primeiro namoro da garota deixou os pais entusiasmados, talvez até demais. Receberam o namorado dela em casa, fizeram questão de conhecer a família dele, e passaram a ter grande proximidade com o grupo. Faziam jantares em casa, saiam juntos, e até programaram uma viagem ao exterior com as duas famílias. Foi durante a viagem que aconteceu a encrenca.

O casal de adolescentes se estranhou e eles se negaram a sair juntos. Você imagina, caro leitor, que constrangimento para os pais dos dois? O pior foi que a família do garoto entendeu que a "culpa" do acontecimento havia sido da menina –e vice-versa– e um grande problema diplomático entre as duas famílias se instalou. Em resumo: a viagem foi cancelada no meio pelos pais de Carolina e as duas famílias romperam seu relacionamento.

No outro exemplo, foi um garoto de 17 anos que passou a levar a namorada de 16 em casa. A mãe do menino, separada do pai dele, passou a desenvolver um estreito relacionamento com a adolescente e sofreu demais com o rompimento do namoro do filho. Chegou a negar-se a conhecer uma nova namorada e o rapaz decidiu, então, ir morar com o pai.

Nós, que já fomos adolescentes, deveríamos lembrar que, nessa fase da vida, os namoros começam e terminam rapidamente; são raros os relacionamentos amorosos na adolescência que perduram até a maturidade.

É que eles estão numa época de descoberta da amorosidade erotizada e isso os leva a namoros que são, vamos dizer assim, experimentais. Namorando eles se conhecem mais, e também aprendem mais sobre o outro, sobre como administrar conflitos em relacionamentos íntimos e como sobreviver à descoberta de que o outro foi, inicialmente, idealizado. Eles também experimentam, nesses namoros, a vivência de comprometer-se com seus próprios afetos pelo outro, e isso nem sempre é fácil para eles. Mas ajuda a crescer.

Nos tempos de hoje tornou-se fácil para os pais confundir o que significa ter um vínculo estreito com o filho com ter uma amizade com ele, não é? Talvez tenha sido isso que levou os pais dos exemplos citados a participarem tão ativamente do namoro dos filhos.

Então, vamos deixar claro para os pais de adolescentes: o namoro é uma parte da vida deles que não diz respeito aos pais. Claro que isso não significa ficar alheio ao fato. O bom é ouvir os filhos se -repito- se eles quiserem conversar sobre esse fato da vida deles e manter uma distância discreta do relacionamento que iniciaram. A tutela dos pais, ainda tão necessária na vida dos filhos, deve continuar, como sempre.

Isso ajuda o filho a entender que ele é o único responsável por essa parte de sua vida e isso, como eu já disse, ajuda a crescer, amadurece e, em alguns casos, precipita para a vida adulta.
Para terminar esta conversa, não custa reafirmar: namoro não é coisa de criança. Por isso, nada de fazer referência aos "namoradinhos" dos filhos pequenos, por mais que isso pareça apenas uma graça com eles, combinado?


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