Folha de S. Paulo


Escola invisível

Cerca de 80% dos estudantes brasileiros que frequentam a escola básica estão em escolas públicas! Poucas vezes nos damos conta dessa proporção, já que vivemos em bolhas, em redes de relacionamento em geral homogêneas, ou quase: mesmo nível socioeconômico, estilos de vida semelhantes, valores compartilhados e filhos que estudam em escolas privadas. É por isso que para nós, da classe média, os alunos da escola pública são invisíveis.

Mas eles se tornaram visíveis e ganharam nossa simpatia, principalmente nas redes sociais virtuais, com seu movimento de ocupação de escolas, para que muitas delas não fossem fechadas.
Provavelmente, caro leitor, seus filhos estudam ou estudaram em escolas particulares, cujos alunos estão seguros, cujos professores são bons e assíduos, e cujos prédios são bonitos, bem conservados e equipados. "Escolas de rico", como disse uma aluna de uma escola ocupada em função do movimento estudantil.

Nada disso faz parte da realidade de nossas escolas públicas. Visitei a EE Pequeno Cotolengo de Don Oriani, localizada em Cotia, SP, na última sexta-feira (4), a convite da mãe de um aluno que participa da ocupação da escola, que iria -ou irá- ser fechada. Conversei com alunos e visitei a parte acessível da escola. Apesar das peculiaridades dessa unidade escolar, creio que ela representa a maioria das outras escolas, ocupadas ou não.

As instalações estão em péssimas condições, abandonadas, e não devido à ocupação: interruptores abertos com fios elétricos expostos -um perigo!-, salas sem ventilação, insalubres. O prédio é alugado de uma instituição religiosa pelo Estado, e, antes do projeto de reorganização, já estava em risco de ser fechada por falta de pagamento. E continua!

A escola atende, além de alunos do ensino fundamental e médio, à educação especial, e o prédio está adaptado para que os cerca de 70 (!) alunos com necessidades especiais sejam atendidos. Uma diversidade maravilhosa convive nessa escola: alguns alunos de famílias de alta renda vindos da Granja Viana, os humildes do entorno e os portadores de diferentes necessidades especiais, vindos de várias localidades próximas. Para onde eles irão? Certamente, alguns deixarão a vida escolar. Com a nossa anuência!

Os alunos estavam cuidando bem da escola: ela estava limpa, organizada. Tiveram aulas e oficinas com voluntários, o que os deixou muito entusiasmados. A frase dita por uma aluna martela minha cabeça desde então: "Nunca senti que fazia parte desta escola; agora, com a ocupação, eu sinto".

Essa escola, caro leitor, como todas as outras públicas, precisa de cada um de nós. De nossa solidariedade, generosidade, compromisso com o futuro próximo. Quantos talentos destruídos, desconhecidos, frequentam -ou abandonam- essas escolas!

Faço um convite, caro leitor: localize uma escola pública no seu entorno, no seu trajeto. Vá lá, converse com os alunos. Ouça-os, que é o que eles precisam. Acolha-os. Observe os reparos que o prédio exige, organize a ajuda da comunidade.

Tome uma atitude cidadã: pressione o Estado, organize projetos, apoie os que já existem. Podemos juntar forças com essa moçada que mostrou o seu valor e colaborar para que tenham boas escolas. Vamos apresentar nossa boa companhia a esses jovens?


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