Folha de S. Paulo


Modelo de pai

Ser mãe na atualidade é uma tarefa árdua e muito trabalhosa! Cada vez mais. É que filhos, hoje, são vistos como um sonho de consumo –a sociedade em que vivemos provocou isso. Portanto, é preciso ter e criar filhos perfeitos, o que resulta na busca de um ideal de perfeição de mãe. Como as mulheres que têm filhos nunca chegam sequer perto desse ideal –ninguém chega–, elas sofrem com a culpa, que ganha desenhos diversos no cotidiano.

É a culpa por ter pouco tempo para estar com o filho, por almejar uma carreira, por errar e assim por diante. A culpa ganha múltiplas faces, mas no fundo pode ter uma só cara: as imperfeições da mãe.

Ser pai nos dias atuais é ainda mais difícil, por vários motivos. Um deles, bem importante, é encontrar o seu lugar de pai na família. É que o enorme apego –quase posse absoluta– que muitas mulheres têm tido com seus rebentos tem formado uma barreira que dificulta ao pai construir o seu papel na relação com o filho. Quem não conhece mulheres que acreditam que só elas sabem o jeito certo de cuidar do filho, que não aceitam interferência alguma, nem mesmo da própria mãe?

Muitos pais não querem se submeter ao papel de "ajudar" a mulher a cuidar do filho e apenas seguir as orientações que ela dá, conforme um costume que já é bem antigo!

Eles querem fazer do jeito deles, que é bem diferente do jeito da mãe. E é muito bom para o filho, por sinal, ter dois estilos íntimos de cuidado, de amor, de relacionamento.

Muitas mulheres, porém, construíram um vínculo tão estreito com o filho que nele não cabe mais um, no caso, o pai. E a função do pai na vida do filho é crucial!

É o pai que vai romper esse relacionamento do filho com a mãe para jogá-lo no mundo, na realidade, no convívio social. Vamos convir: a vida não é uma mãe para ninguém, tampouco será para a criança, mesmo pequena. Dar diariamente banho de realidade no filho: essa é uma importante função do pai, que só irá acontecer se a mãe permitir.

Outro motivo que torna o exercício da paternidade difícil na atualidade é a falta de tradição: em nossa sociedade, o lugar privilegiado do pai era o de provedor material da família e dos filhos. É bem novo o fato de os pais desejarem se envolver emocionalmente com seus filhos, não é verdade?

Falta um modelo de pai aos homens que querem, verdadeiramente, acompanhar de perto o desenvolvimento de seus filhos, trocar afetos com eles e priorizá-los em sua vida. Estamos, em nossa sociedade, a construir isso.

Para finalizar nossa conversa de hoje, vale lembrar que o trabalho atrapalha bastante o relacionamento dos homens com os filhos. As empresas têm exigido demais de seus trabalhadores, independentemente do trabalho e da função que exercem.

Já comentei aqui do "tempo integral louco" que muitos trabalhadores têm cumprido: além do horário efetivo de trabalho, as conversas intermináveis por mensagens instantâneas e celular. Alguns homens falam com orgulho de sua dedicação máxima ao trabalho, mas isso tem um preço: a ausência na relação com os filhos. Aos pais que conseguem superar todos esses e outros obstáculos em nome dos filhos, minha maior admiração!


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