Folha de S. Paulo


Não aprendizagens

Na semana passada, um vídeo bombou na internet. Ele mostra um garoto que agride fisicamente outro, menor do que ele e que chega a chorar por causa da humilhação que sofre, principalmente porque todos que ali estão sabem que a cena está sendo filmada e que, inevitavelmente, seria publicada. E foi. Os garotos devem ter entre 11 e 13 anos.

A cena incomoda por identificar o fenômeno do bullying e, por isso, o vídeo foi tantas vezes replicado nas redes sociais. A maioria dos comentários que li condenava veementemente e violentamente –que ironia, não é?– o protagonista da agressão. Poucos, bem poucos, lembraram-se de apontar um detalhe da cena que é, porém, o mais importante: tudo o que foi documentado aconteceu em uma escola.

A instituição escolar costuma levantar bandeiras e adotar bordões, sendo alguns deles "educar para a cidadania", "educação para a paz", "ensinar a aprender" etc. Tudo o que ela consegue, entretanto, é esvaziar de sentido essas expressões e tantas outras que usa.

Você já se deu conta, caro leitor, de que quase todas as situações de bullying e de agressividade descontrolada entre crianças e adolescentes ocorrem na escola? É por isso que as instituições de ensino costumam realizar muitas palestras a respeito do assunto. Mas, ao agirem assim, elas simplesmente declaram, nas entrelinhas, que nada têm a ver com o fato. As famílias é que são responsabilizadas pelo comportamento dos mais novos, não é assim?

Pois é dever da escola ensinar a convivência zelosa, justa e respeitosa dos alunos, entre si e com todos os trabalhadores do seu espaço. Mas o problema é que a escola está ocupada com outras questões que considera mais importantes. Transmitir uma quantidade enorme de conteúdos, por exemplo.

Além disso, ela não sabe como passar para a prática o que declara fazer parte de seu projeto, como a ética e a cidadania. Regras, regras, mais regras e punições: é dessa forma que a escola tenta ensinar a convivência no espaço público.

Já entrei em muitos espaços escolares e vi, pintadas nos pisos, setas indicando por onde os alunos devem descer ou subir uma escada ou caminhar pelos corredores. O objetivo, me disseram, é levar os estudantes a caminhar pelos locais de trânsito sem atrapalhar os outros.

Há coisa mais infantilizadora e inócua? Os alunos simplesmente ignoram ou transgridem tal indicação. E caminham trombando com colegas e arrastando ruidosamente suas malas com aquela enormidade de material didático –ou nada didático. Em resumo: não aprendem nada a respeito do bom uso do espaço coletivo e, menos ainda, a enxergar o outro.

Se você tem filho na escola, caro leitor, deveria preocupar-se com o que ele NÃO aprende por lá, muito mais do que com o que a instituição quer que ele aprenda.

Na maioria das escolas, o aluno não aprende –porque não é ensinado– a participar de um grupo, a conviver respeitosamente sem exceção com todos os colegas, a cuidar dos menores, a pedir a ajuda de um adulto quando precisa, a pensar por si mesmo, a ser crítico, a administrar o seu próprio tempo nos estudos, a fazer escolhas bem informadas, a colocar-se no lugar do outro.

Todos esses ensinamentos têm feito muita falta, principalmente agora, que temos dado aos mais novos tantos maus exemplos.


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