Folha de S. Paulo


Parceria contra a crise

Vamos respirar fundo e apertar os cintos de segurança porque os filhos retornaram às aulas.

Algumas mães estão aliviadas. Pudera! As crianças, em casa, demandam 100% da atenção delas: querem saber o que fazer, querem ficar em frente à televisão, na internet ou jogando videogame por muito tempo, querem programas superdivertidos e mais e mais e mais! Elas sempre querem mais. São consumidoras vorazes de lazer e diversão, mas não sabem procurar brincadeiras e entretenimento por conta própria. São dependentes dos adultos.

Mas há também muitas mães previamente cansadas por tudo o que terão de fazer pelos filhos em sua vida escolar: reuniões, mandar estudar, acompanhar as lições de casa, trocar ideias com os pais de colegas por meio de programas de mensagens instantâneas, levar para estudos de grupo e aniversários, buscar, receber colegas em casa etc. Dá a maior canseira ser mãe de estudantes hoje em dia.

Faz tempo que o que entendemos como parceria família-escola é a escola falar e os pais escutarem –é verdade que muitos deles rodam a baiana na escola, muitas vezes por motivos equivocados.

O que deveria interessar às famílias é a discussão na formulação –permanente– do projeto ético, político e pedagógico da escola e também da administração escolar. Essa poderia ser uma boa parceria.

Alguns exemplos de questões que os pais poderiam discutir com a escola para contribuir, efetivamente, com a sua prática: "Que tipo de alunos queremos formar?"; "Queremos incentivar a cooperação ou a competição?"; "Quais virtudes vamos eleger para ensinar neste ano letivo?"; "Como funciona o recreio? Podemos melhorá-lo?"; "Quais projetos iremos priorizar neste ano?"; "Há bullying na escola? Como interferir?" e assim por diante.

Mas, por enquanto, a parceria tem transformado os pais quase que em tutores, auxiliares de ensino e até mesmo professores particulares.

Neste ano, em especial nas cidades afetadas pela crise hídrica, os pais precisarão refletir junto com a escola sobre como enfrentarão o racionamento e a falta de água que, é quase certo, acontecerá.

Sim, caro leitor: esse é um problema bastante sério para as escolas e para as famílias. Imagine 50, 100, 400, 1.000 alunos compartilhando o mesmo espaço sem água. Você tem ideia do caos que isso será?

A prática que temos tido até agora, quando há falta de água em unidades escolares por um problema ou outro, tem sido a suspensão das aulas. Imagine, no quadro que se apresenta agora, milhares de crianças sem poder frequentar a escola sabe-se lá por quantos dias. Um problema para escolas, famílias e alunos. Um problema social imenso.

A comunidade de cada escola –gestores, professores, alunos e famílias– deveria reunir-se logo no início do ano letivo para essa discussão. O que se pode ensinar e aprender com a situação a que chegamos nessa crise no abastecimento de água, quais são as alternativas viáveis para a escola e as famílias etc. Agora é a hora de procurar reduzir os danos, já que a situação chegou a tal ponto.

Tenho certeza de que muitos pais podem ter ideias geniais para minimizar o problema. E isso sim seria uma bela parceria escola-família: todos em torno do objetivo da busca do melhor para a escola e de seus envolvidos.


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