Folha de S. Paulo


Reflexões de fim de ano

"O que queremos para nossas crianças e para nossos jovens?"; "O que fazemos e/ou gostaríamos de fazer por e para eles?"; "Como nos vemos frente a eles?". Foi com essas perguntas que revisitei as mensagens que recebi de pais e de professores durante este ano e as anotações que fiz após encontros com educadores, tanto da família quanto da escola.

A palavra "felicidade" parece ser um norte dos responsáveis pela educação dos mais novos. É como se existisse uma carta de intenções, ou política coletiva, à qual muitos se engajaram por conter um princípio primordial para crianças e jovens: ser feliz. Por isso, quase todos estão empenhados em promover, buscar e alcançar essa tal felicidade para eles.

As estratégias utilizadas não são variadas: dar a eles o que eles querem para que fiquem alegres e oferecer condições para que se sintam bem são as mais utilizadas. Alegria, satisfação, prazer e conforto têm sido portanto, para os adultos, condições que possibilitam a felicidade para os mais novos.

Outra palavra muito utilizada é "sucesso". Para que se deem bem na vida futura, por exemplo, crianças e jovens são submetidos a uma formação de conteúdo e de atitudes bastante variada e desde a mais tenra idade: línguas estrangeiras, esportes diversos, todo tipo de atividade que promete desenvolver o raciocínio, tecnologia etc. fazem parte das estratégias que os adultos oferecem aos mais novos para que tenham boa formação para alcançar o sucesso na vida futura.

Impotência, ou pouca potência, é o que sentem muitos adultos frente às demandas educativas das crianças e dos jovens. Até parece que apenas especialistas em educação ou em algum aspecto da vida deles teriam competência para resolver as questões que os mais novos apresentam –das mais simples às mais complexas– e que exigem algum tipo de medida.

Dos problemas de sono das crianças pequenas às transgressões dos adolescentes, pais e escolas mostraram não saber o que fazer além daquilo que já fizeram. E o recurso que eles mais usaram foi o de procurar saídas fora de si, em geral de profissionais ou livros que consideram competentes para tal.

Escolhi estas, entre tantas outras questões que muitos educadores me trouxeram para deixar a você, caro leitor, meus votos para o ano que está prestes a iniciar.

Desejo muito que os que se responsabilizam pela educação reconheçam que têm poder para resolver as questões que têm encaminhado aos especialistas. Errar todos iremos, façamos assim ou assado. Em educação, não há receitas garantidas de êxito. É pura experimentação, iluminada, é claro, pelos princípios de respeito, consideração, justiça e compaixão, entre outros, que devemos às crianças e jovens.

Desejo, igualmente, que a vida dos mais novos não seja tomada como uma carreira que exige formação específica, planejamento, execução, avaliação, êxito. Eles construirão isso quando chegar a hora. Antes disso, eles precisam é de nossa companhia para aprender a conviver, a colaborar e a desenvolver algumas virtudes.

Por fim, desejo intensamente que tenhamos mais fé nas crianças e nos jovens: não são eles os responsáveis pelas mazelas do mundo, e sim nós.

Entro em férias a partir de hoje, e retorno no final de janeiro. Desejo que cada um dos leitores que me fizeram companhia neste ano tenha boas festas e novas metas para o ano novo.
Saúde!


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