Folha de S. Paulo


A escolha certa

Os pais sabem que não existe escola perfeita, mas querem acertar e ganham mais e mais dúvidas

Diversas mães estão em busca da primeira escola para o filho e têm dúvidas sobre o que procurar e o que priorizar. Você sabe, caro leitor, como funciona atualmente a busca por escola para os filhos?

Em geral, os pais procuram por escolas bem avaliadas por conhecidos –que têm ou tiveram os filhos nessa escola– ou por avaliações formais, dessas que resultam em rankings publicados pela imprensa.

Após fazerem uma lista das que consideraram as mais interessantes, visitam todas elas. E aí é que vem a parte pior: escolher só uma.

Os pais sabem que não existe escola perfeita, mas querem acertar. Por isso, investigam muito: pedem orientações a profissionais da área, procuram informações na internet e até leem artigos e livros em busca de mais conhecimento.

O que eles ganham, porém, são mais e mais dúvidas, por diversos motivos: as ciências da educação têm diversas vertentes, muitas vezes antagônicas entre si; as escolas seguem mais a tradição e os anseios sociais que lhes rendam alunos do que as novas teorias da educação; e há muitas posições diferentes sobre primeira infância e a escola.

Algumas mães têm me enviado questões muito interessantes em relação a esse assunto e que valem uma boa conversa. Começo pela pergunta aparentemente simples e direta de uma leitora: "O que é uma escola alternativa?"

Talvez essa palavra tenha começado a ser usada para qualificar escolas que se propunham a ser uma opção à escola tradicional, ou seja, que praticavam métodos novos e que se organizavam de modo diferente do já conhecido sistema escolar. Mas, pouco a pouco, a palavra ganhou um tom pejorativo. Hoje, quando se quer fazer referência a alguma escola um pouco diferente, mas à qual não se dá muito crédito, usamos a palavra "alternativa".

Escolas alternativas, no sentido original do termo –que sejam, de fato, uma substituição ao modelo tradicional de organização e de ensino –, temos poucas. Por isso, talvez essa característica nem deva contar para quem está na batalha para escolher uma boa escola.

Outra leitora fez uma observação muito perspicaz: disse que tudo o que encontrou a respeito de escola para os primeiros anos de vida foi a ênfase no brincar, mas que todas as que visitou não dão valor a isso.

É verdade: a brincadeira virou estratégia pedagógica. E é assim que se acaba com ela.

Brincar não pode ter objetivo, como brincar de amarelinha para aprender números ou pular corda para aprimorar a motricidade. O brincar é livre e busca o prazer e o entretenimento, mas provoca efeitos colaterais: aguça a curiosidade, estimula a investigação e a experimentação, intensifica a criatividade e amplia o conhecimento do mundo em todos os sentidos.

A brincadeira burocratizada, domesticada, pedagogizada, não serve para nada mais do que aborrecer a criança. E é esse tipo de brincadeira que a maioria de nossas escolas de educação infantil pratica.

As leitoras detectaram uma questão crucial em nossas escolas de educação infantil: em nome da preparação para o futuro, elas empobrecem a infância.

A melhor maneira de preparar a criança para um futuro melhor é cuidar bem do presente dela. Criança pequena, na escola, precisa ser tratada como criança pequena, e não como um futuro adulto.


Endereço da página: