Folha de S. Paulo


Autonomia de objetos conectados pode levar a revolta contra máquinas

Gabriel Cabral/Folhapress
Mecânico de automóveis está entre profissões com mais chances de desaparecer por causa da tecnologia
Mecânico de automóveis está entre profissões com mais chances de desaparecer por causa da tecnologia

Dois professores de Oxford, Carl Frey e Michael Osborne, escreveram trabalho seminal sobre o fim dos empregos. Segundo eles, por causa da tecnologia, 47% dos empregos nos EUA vão desaparecer nos próximos anos. Eles criaram uma tabela de probabilidades de quais profissões têm mais chances de desaparecer.

Entre aquelas com grandes chances de sumiço, estão operadores de call center e motoristas em geral. Entre as profissões de baixa probabilidade de sumiço, estão, por exemplo, enfermeiras e enfermeiros, que ainda vão demorar a serem trocados por máquinas.

No entanto, há uma outra profissão não mencionada que também corre perigo de sumir ou de mudar radicalmente, ainda que por outros motivos: os mecânicos de automóveis e qualquer pessoa que viva de consertar aparelhos ou maquinário.

A razão é que estamos diante da tendência de que todos os objetos cotidianos, inclusive os mais prosaicos, acabarão por se conectar à internet. Uma vez que isso acontece, o objeto deixa de ser uma peça "analógica" para se tornar uma peça "digital". A parte eletrônica torna-se essencial para o seu funcionamento.

Um exemplo dramático disso ocorre entre fazendeiros nos EUA. A geração mais nova de uma famosa marca de tratores é totalmente digital. Os veículos vêm com um software que controla suas funcionalidades mais básicas. O problema é que, quando um desses tratores quebra, o contrato de licença do software não permite que eles sejam consertados. É preciso chamar um técnico especializado, que é muito diferente de um mecânico tradicional.

Um artigo recente da "Vice" mostrou que isso tem gerado revolta entre fazendeiros. Acostumados a atuar em uma lógica do "faça você mesmo", consertando seu próprio equipamento quando ele quebra, muitos estão indignados com a impossibilidade de exercer controle sobre os tratores que compraram. Alguns estão optando por deletar o software que vem de fábrica, substituindo-o por uma versão pirata da Ucrânia, que dá controle total ao dono do trator e dispensa intermediários.

Esse problema em breve será de todos nós. Carros de passeio, por exemplo, virão cada vez mais de fábrica com software capaz de controlar cada vez mais partes essenciais do seu funcionamento.

O mesmo acontece com outros tipos de maquinário ou utensílios domésticos. Isso pode retirar do usuário o controle sobre os objetos que utiliza e trazer problemas inesperados. Ninguém quer um carro que se torna inútil com um software que falhe. A própria ideia de "lixo digital" pode se ampliar. Quem nunca jogou fora um computador ou um celular porque ele ficou lento demais? E se o mesmo acontecer com o seu carro?

Por isso é preciso adotar desde já cinco princípios para governar nossa relação com os objetos conectados. São eles: confiabilidade, segurança, privacidade, interoperabilidade e autonomia (inclusive de consertar o objeto sozinho). Se não fizermos isso, o resto será revolta.

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