Folha de S. Paulo


Apostar em inovação verde

Ninguém deveria se surpreender com o anúncio de que a China vai reduzir fortemente suas emissões de carbono. A notícia impactou a COP21, a conferência sobre mudança climática que termina na próxima sexta. De grande vilã do aquecimento global, a China assume agora o papel de campeã mundial do tema.

O país não faz isso por altruísmo. Faz porque enxerga uma enorme oportunidade econômica: apostar em tecnologias verdes e em energia limpa, setor que estará em alta nas próximas décadas. O governo chinês vai investir US$ 2,5 trilhões (R$ 9,4 trilhões) nos próximos 15 anos em energia limpa. A estratégia é promover colaboração entre empresas globais e empresas chinesas, com foco em inovação.

É uma lástima que o Brasil não tenha se posicionado com força nesse jogo. Nosso país tem tudo para ser líder nele. Só que a falta de visão -simbolizada pelo encanto com o pré-sal- nos tirou da rota.

Apesar disso, há esperança. A onda de inovação verde espalha-se pelo mundo e também pelo Brasil. A dinâmica desse tipo de iniciativa é sempre parecida. Um grupo de empreendedores se une, cria uma comunidade de colaboração em torno de um projeto, tudo altamente conectado pela internet. Adota uma dinâmica "open source" (de código aberto), em que ideias e avanços são livremente compartilhados. Busca financiamento tanto por meios tradicionais quanto por crowdfunding. A partir daí o objetivo é ganhar escala, expandindo local e globalmente.

Apoiar esse tipo de arranjo é essencial. São muitos os projetos surgidos assim. Por exemplo o Wikihouse.cc, na Inglaterra, que desenvolve um kit de construção de casas de baixo custo com materiais como madeira ou compensado. As peças são feitas em uma impressora industrial -depois é só montar. No Brasil, uma iniciativa semelhante é a Urban3D, de São Paulo, que busca reduzir em até 80% os custos de construção civil incorporando tecnologias de robótica e impressão 3D.

Outro belo exemplo é o Bamboozar, instituto criado pelo empresário Mark Neeleman, que quer investir R$ 150 milhões nos próximos cinco anos no Acre, pesquisando as mais de 1.400 variedades de bambu existentes no país. São muitas as aplicações: construção de painéis para construção civil ou biocombustíveis. Tudo com um recurso altamente renovável.

Ou ainda a WTT Ventures, em São Paulo, que apoia o desenvolvimento de inovações verdes na área de energia, água e biodiversidade. Dentre os projetos apoiados há a geração de etanol a partir da celulose do bagaço da cana ou geradores de energia com ímãs supercondutores.

A COP21 deixará claro que apostar em tecnologias sustentáveis é questão não só de sobrevivência, mas de desenvolvimento econômico. O Brasil precisa decidir se será produtor de inovação verde ou se se contentará, de novo, em ser consumidor do que vier da China.

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