Folha de S. Paulo


República das commodities

Para pensar o desenvolvimento do Brasil há uma obra obrigatória. Ela se chama "Atlas da Complexidade Econômica", realizada pelo economista Ricardo Hausmann, da Escola de Governo de Harvard, e pelo professor de artes midiáticas do MIT César Hidalgo, dentre outros. Trata-se de um belo exemplo de cooperação entre campos diferentes do conhecimento: economia, estatística e design.

Juntos eles criaram o Índice de Complexidade Econômica. Ele mede o quanto a economia de um país é complexa e diversificada, com base na sua cesta de produtos exportados. Quanto mais sofisticados os produtos exportados pelo país, maior é a chance de que ele conseguirá fazer produtos ainda mais complexos. Um país que exporta primordialmente bananas não pode esperar que vá produzir iPhones no ano seguinte. Precisa aumentar sua complexidade gradativamente, pulando de galho em galho, até chegar lá.

Aliás, "complexidade" é definida como a quantidade de conhecimento na sociedade que consegue ser traduzido em produtos feitos por ela. Exemplos de produtos complexos incluem maquinário de ponta, eletrônicos e química fina. Já os menos complexos são basicamente as commodities agrícolas.

O Brasil vai mal no ranking de complexidade econômica. Ocupamos a 51ª posição global. Ficamos em último lugar dentre todos os BRICs, que possuem economias mais sofisticadas que a nossa. Perdemos em complexidade econômica também para o México, Líbano, Panamá e Tailândia. Essa posição ruim reflete a cesta atual de exportações do país, que é de uma simplicidade franciscana na maior parte: minério de ferro, petróleo bruto, açúcar, café, soja e milho.

O problema da falta de complexidade econômica é que ela leva a problemas maiores. Hausmann e Hidalgo descobriram em 2011 que quanto mais um país exporta produtos sofisticados e diversificados, mais ele consegue gerar crescimento econômico futuro. Em outras palavras, o Índice de Complexidade Econômica pode ser usado para medir a perspectiva de desenvolvimento.

Mas não é só. Em um novíssimo estudo chamado "Linking Economic Complexity, Institutions and Income Inequality" (conectando complexidade econômica, institutições e desigualdade de renda) publicado há pouco mais de uma semana, Hidalgo e seus companheiros fazem uma nova descoberta. A complexidade econômica é também capaz de prever o aumento da desigualdade. Países que diversificam seus produtos de exportação geram também redução da desigualdade de renda.

Tudo isso demonstra a necessidade de se rever com urgência o modelo de desenvolvimento do país. Inovar e aumentar o domínio de conhecimentos por parte da sociedade brasileira, traduzindo-os em produtos, tem de se tornar agenda central. Vale acessar o belo site do Atlas da Complexidade Econômica -que nos ajuda, infelizmente, a enxergar más notícias-, em atlas.cid.harvard.edu.

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