Folha de S. Paulo


Game-ensaio questiona nossa relação com a rede

Você chega em casa após um dia exaustivo. Resolve espiar a internet. Fica ali solitário clicando a esmo e horas se passam. Com quem (ou o quê) exatamente estamos interagindo? Quando nossa mente pluga-se à rede a esmo, o que exatamente acontece?

Essas e outras questões são ilustradas pelo jogo "simian.interface", que tem gerado algum hype agora que foi lançado para iPhones e iPads. No game, entramos no pelo de um macaquinho de laboratório. Ele é colocado na frente do computador para ficar organizando formas e cores que aparecem na tela. Quando resolve os quebra-cabeças, ganha bananas. Vale dizer que o jogo é divertido. Em 20 minutos dá para zerar os testes (e receber várias bananas virtuais).

Mas o interessante sobre "simian.interface" é que ele faz parte do gênero de "jogos-ensaios". Games que, para além da diversão, defendem um ponto de vista ou simulam uma situação-limite (exemplos incluem "Unmanned", sobre drones; "Cart Life", simulador de camelô; ou "Papers, Please", sobre o trabalho de um agente de imigração, eleito um dos melhores games de 2013).

Jogar qualquer um deles produz "insights" tão interessantes quanto um bom artigo da revista "The New Yorker". No caso de "simian.interface", o game faz pensar o quanto somos parecidos com o macaquinho da tela. Passamos o dia (e a noite) clicando e desempenhando tarefas para entes impessoais que não conhecemos bem. Em vez de bananas, ganhamos fotos de gatos, likes, pornografia e até informação. A questão é se o saldo desse "trabalho" é positivo. A rede toma cada vez mais nossa capacidade cognitiva. A questão é saber o quanto recebemos de volta.

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JÁ ERA
Produtos feitos "para durar para sempre"

JÁ É
Obsolescência programada para computadores, celulares e tablets

JÁ VEM
Obsolescência programada para carros que se conectam à rede


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