Folha de S. Paulo


Governo Temer é o oxigênio que mantém vivo o PT

Eduardo Knapp - 30.mai.17/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 30-05-2017: Presidente Michel Temer (PMDB) passa ao lado do prefeito Joao Doria (PSDB) na abertura do Forum de Investimentos Brasil 2017 no Hotel Grand Hyatt, em Sao Paulo (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, PODER).
O presidente Michel Temer durante evento com empresários em SP

As pesquisas de opinião durante o impeachment de Dilma Rousseff constatavam a ruína política e moral do PT; registravam até 95% de rejeição. O petismo parecia, enfim, banido da história.

Nas ruas, em manifestações que chegaram a reunir mais de 6 milhões em todo o país —1,5 milhão só em São Paulo—, o grito uníssono era "Fora, PT", "Fora, Dilma", Fora, Lula".

A rejeição já continha dose de hostilidade aos políticos em geral, processo que se agravaria com os desdobramentos da Lava Jato. Incluo-me entre os poucos que não eram rejeitados nas manifestações.

Foi naquela ocasião, em 2015, que, diante do que antevia —e a presente crise o confirma—, propus a convocação de eleições diretas e gerais. Não via, como não vejo, outra saída.

Estava no primeiro ano de um mandato de oito anos, de senador por Goiás, e me dispunha a cortar na própria carne, voltando a enfrentar as urnas. Não faz, pois, sentido os que hoje, para espanto geral, defendem eleições indiretas me acusar de agir em causa própria. Do ponto de vista pessoal, tenho mandato até 2022, mas a democracia corre o risco de não chegar até lá.

A pergunta é: a ascensão do vice-presidente, que figurou como segundo escalão do esquema político mais corrupto da história, poderia reconciliar sociedade e políticos?

Só a renovação do quadro político vigente pode proporcionar um efetivo recomeço. Arranjos de gabinete, que a população detecta e repudia nas redes sociais, servem apenas para aprofundar o abismo entre o país real e o oficial.

Mudanças ministeriais com o indisfarçável objetivo de garantir foro privilegiado a investigados não passam de tentativas de obstrução de Justiça, além de explícita confissão de crime. E o resultado é que aprofundam a rejeição popular à política, sem a qual, no entanto, não há democracia e paz social.

Não temo as urnas —e não temo o PT. Se ele conseguiu sobrevida desde o impeachment, isso se deve exatamente à solução precária, pondo em cena um governo de suspeitos e investigados, a começar pelo presidente e seus principais ministros.

O governo Temer tem sido o oxigênio que mantém vivo o PT e lhe oferece chances de ressurgimento. Quanto mais tempo perdurar, mais chances de sobrevida dará a um projeto criminoso de poder, com o qual hoje se confunde.

Lula finge querer diretas. Sabe que não tem chances, mas percebe o temor dos adversários, que, por covardia, acabam por viabilizar sua narrativa de perseguido político.

Temos então que a bandeira das diretas passou às mãos dos delinquentes, enquanto os que defendem o saneamento moral contentam-se, inversamente, com truques que oscilam entre manter um presidente investigado ou sucedê-lo por via indireta.

Alegam que a Constituição não prevê diretas nessa circunstância. Ora, nenhum legislador poderia prever o que aí está —a perda de credibilidade de toda a classe política.

Nesses termos, não concebeu soluções à altura do necessário. Antecipar eleições, em diversas nações desenvolvidas —e o Reino Unido acaba de fazê-lo, em face do "brexit"—, é recurso comum e legítimo.

A democracia é o regime da maioria, e, quando a crise a ameaça, o remédio é recorrer à fonte que a nutre: o povo.

O país carece de reformas urgentes, mas não será possível fazê-las sob um governo desacreditado. Não basta obter votos de um Congresso que padece dos mesmos males. Não se trata de questão contábil.

A população rejeita o que daí advenha —e é dessa rejeição que se valem petistas e satélites para tentar reocupar as ruas, cuja hegemonia perderam.


Endereço da página: