Folha de S. Paulo


Impeachment ganha força

Os números atestam. Não se trata de opinião, ideologia ou sensacionalismo. A crise não é "marolinha", nem vai embora se nos convencermos de que está tudo bem, como Lula e o PT sugerem em sua propaganda partidária. A oposição não seguirá o conselho do ex-presidente. Não vamos mentir para a população brasileira: a situação é grave e ainda não há perspectiva na área econômica.

O PT criou uma situação de mais de 9 milhões de desempregados, enquanto um ano antes a marca era de 6,5 milhões. O poder de compra do salário médio caiu de R$ 2.167,6 em 2014 para R$ 2.044,2 em 2015 –uma retração de 5,7%, em um processo que ainda não terminou. A taxa de desocupação entre jovens (18 a 24 anos) passou de 10,5%, que já é alta, para espantosos 16,5% no ano passado. E o PT quer elevar nossa esperança com propaganda?

O Brasil hoje possui grau "especulativo" das agências de avaliação de risco. A consequência é a fuga de investimentos. O PT no poder minou as oportunidades de crescimento e geração de emprego e renda. E Lula não quer que falemos em crise para não quebrar a estima do brasileiro?

É importante ressaltar que a tentativa de ofuscar a crise também segue uma tática de sobrevivência do PT. Não há fator externo, desastre climático, guerras ou conflitos civis que expliquem essa recessão. A crise é do PT. De suas práticas, escolhas e principalmente da dilapidação do patrimônio público para sustentar o caixa de um projeto de poder que, hoje sabemos, transcende as fronteiras nacionais e se alastra por outros países.

Até o grave caso da epidemia do vírus da zika –também obra da negligência do poder público com pesquisa e prevenção– se tornou instrumento para a comunicação estratégica do governo. O problema é usado para fins midiáticos, com muito jingle, frases de efeito, ministros pateticamente vistoriando pneus velhos, mas pouca ação.

Em 2014, o Orçamento federal para o controle do Aedes Aegypti dispunha de R$ 10 milhões e somente R$ 5,9 milhões foram executados (59%). Em 2015, estavam disponíveis R$ 124 milhões e foram executados meros R$ 17 milhões (13,7%). Entre 2012 e 2016, o orçamento para saneamento básico caiu 85%.

Além dos índices que já beiram o caos, outros dois fatores incentivaram o brasileiro a acreditar novamente na saída de Dilma: a prisão de João Santana, marqueteiro e homem forte do Planalto, e o exemplo dado por nossos vizinhos argentinos.

A Lava Jato chegou ao gabinete da presidente Dilma. Indícios para a cassação da chapa da presidente não faltam. Enquanto isso, na Argentina, em pouco mais de dois meses, o presidente Mauricio Macri conseguiu fortalecer as instituições, atrair investidores e colocar o país na rota do crescimento. Tudo isso só foi possível por causa da credibilidade de que ele desfruta e da consciência de que um país não pode ser refém de ideologias. Ao ver tudo isso, a sociedade brasileira entendeu que não é se calando ou esperando o mandato de Dilma acabar que os problemas serão resolvidos.

Sem saída, o governo tenta enredar a oposição com o argumento de que devemos apoiar suas iniciativas, o que significaria apoiar o Brasil. A oposição não cairá nessa artimanha e se constituir em sócia de medidas equivocadas, como é o caso da CPMF.

A oposição apoia o Brasil e sabe que o lado a tomar é o do povo, nas ruas, no dia 13 de março, quando está marcada mais uma mobilização nacional. Pela primeira vez, toda a oposição vai apoiar oficialmente o movimento que tem como mote algo bem simbólico: ou você vai para a rua ou Dilma fica.


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