Folha de S. Paulo


O governo e a mídia engajada

SÃO PAULO - Em meio à grave crise econômica e às palpitações desencadeadas pela operação Lava Jato, o governo Dilma encontrou tempo para lançar um concurso com a finalidade de premiar o que chama de "mídia livre".

A despeito de eventuais discussões sobre o desperdício de dinheiro público (R$ 5 milhões), o prêmio tem o mérito de revelar o significado que a novilíngua oficial dá para estas duas palavrinhas.

"Mídia livre", de acordo com o regulamento expresso no edital do concurso, é aquela que "não tem fins lucrativos", afinal, como dizia o comandante Hugo Chávez, o "capitalismo" é o sistema do "diabo" e é tão destrutivo que "pode" ser o responsável por não haver mais "civilização em Marte".

A lista de premiados ajuda a entender um pouco mais o conceito de "mídia livre" do governo, para além das restrições à atividade comercial.

"O Brasil de Fato", que recebeu um prêmio de R$ 40 mil na categoria "mídia livre local", foi lançado em 2003, durante o Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Possui um site de notícias, um semanário nacional e três jornais tabloides (SP, MG e RJ). Um dos seus criadores é o MST.

Outro premiado, o "Núcleo Piratininga de Comunicação" (R$ 100 mil) tem raízes no sindicalismo. Seu fundador, já falecido, Vito Giannotti, foi diretor da CUT e tinha como mantra a frase "um partido sem jornal é como um exército sem armas".

O "Barão de Itararé" (R$ 40 mil), outro vencedor na categoria "mídia livre local", tem ligação com a política partidária, assim como o "Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social" (R$ 100 mil).

O primeiro é administrado por Altamiro Afonso Borges, secretário nacional de Questões de Mídia do PCdoB. O outro tem como uma de suas coordenadoras Ana Claudia Mielke, ligada ao PSOL.

Nada contra as opções e o trabalho de cada um. Só não dá para chamar de "mídia livre" a "mídia engajada".


Endereço da página: