Folha de S. Paulo


Ministro reescreve o passado

SÃO PAULO - Por algum problema na memória ou, na hipótese menos cândida, por não se importar com a veracidade do que diz, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) tem feito alguns ajustes no seu próprio passado, harmonizando-o com seus atuais interesses.

Defensor da tese de que o impeachment de Dilma é uma "aventura golpista" da oposição, o ministro foi questionado pelo jornal "O Estado de S. Paulo" sobre a sua participação no "Fora, FHC", em 1999.

Sem passar recibo, o ministro disse que, naquela ocasião, defendia o conceito de que "para mudar o Brasil era preciso, por meio do processo eleitoral, mudar o governo". A expressão "Fora, FHC", explicou, na sua versão atualizada dos acontecimentos, queria simbolizar apenas um "fora, política econômica".

Berzoini pode dizer o que quiser, mas não é verdade que naquela época defendia a mudança do governo pelo "processo eleitoral". No dia 18 de maio de 1999, o então deputado votou a favor da abertura de processo de impeachment contra FHC, que era acusado de tentar bloquear as investigações contra o ex-presidente do BC Francisco Lopes.

Mesmo depois de rejeitado o pedido, Berzoini continuou a defender o impeachment, alegando, inclusive, "razões históricas". "Quantas vezes o povo de várias nações foi chamado para mudar os rumos de seu país, para evitar uma catástrofe, para evitar que o aprofundamento de uma política levasse toda a população a uma situação cada vez mais crítica?", questionou, na tribuna da Câmara.

Citando o "desemprego, a miséria e a falta de diálogo com setores que querem produzir e gerar emprego", o hoje ministro defendeu a antecipação da eleição. "Pedir o fim do governo não representa um anseio golpista", afirmou. "Basta de FHC!"

Se precisar refrescar a memória, o ministro pode recorrer ao "Diário da Câmara dos Deputados" de 24 de agosto de 1999, no qual o seu discurso está reproduzido na íntegra.


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