Folha de S. Paulo


A sutileza do hipopótamo

SÃO PAULO - Política no Brasil nunca foi, obviamente, sinônimo de elegância e alto nível.

Já houve, por exemplo, um governador (André Puccinelli, do Mato Grosso do Sul) que chamou um ministro (Carlos Minc) de "veado" e afirmou com todas as letras que, se aparecesse no seu Estado, "iria estuprá-lo em praça pública".

Já houve também um deputado –ACM Neto, hoje prefeito de Salvador– que, na tribuna do Congresso Nacional, declarou ser capaz de dar uma "surra" no então presidente da República (Lula) ou "em qualquer um dos seus".

Houve até candidato a presidente –Ciro Gomes, em 2002– que, bem posicionado nas pesquisas, chamou um eleitor de "burro" numa rádio e ofendeu a própria mulher, no caso uma das atrizes mais famosas do país (Patricia Pillar). Com a sutileza de um hipopótamo, o presidenciável disse simplesmente que o papel de Patrícia na eleição resumia-se a "dormir" com ele.

Pois nos últimos dias, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que em 2010 já havia chamado Serra de "anticristo", e o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman (PSDB) resolveram contribuir para este vasto acervo de baixarias.

Em entrevista à Folha, ao ser questionado se Dilma é uma presidente conciliadora, Wagner respondeu com um gratuito "dizem que Aécio bebe". Na sequência, após reclamar do tom das críticas a Marina Silva no primeiro turno da eleição, disse que o candidato tucano "não tem muito apreço pelo trabalho".

O ex-governador paulista não ficou atrás. Em artigo, escreveu que Dilma sofre de "total confusão mental" e tem a "sua própria gangue".

A despeito da agressividade abaixo da linha de cintura, as declarações do petista e do tucano não deixam de ter alguma utilidade. Servem, ao menos, para dar uma boa ideia da temperatura a que as campanhas poderão chegar se a disputa seguir acirrada até o final da eleição.


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