Folha de S. Paulo


Adoradores da Copa

SÃO PAULO - A despeito das falhas de planejamento, dos gastos exagerados e das obras atrasadas, a Copa do Mundo pode fazer bem ao Brasil. Basta ver o que está ocorrendo nos finais de semana na avenida Paulista, na porta do Pacaembu e em tantos outros lugares. Em vez de black blocs, as ruas agora são dos colecionadores de figurinhas.

Os chamados "pontos de troca" estão espalhados pelo país e atraem milhares de pessoas. Em São Paulo, por exemplo, há pelo menos 30 lugares assim. No Rio, 20. Idosos, mulheres grávidas, homens barbudos e, é claro, muitas crianças chegam invariavelmente com uma listinha das figurinhas que faltam numa mão e um "bolinho" das repetidas na outra. E passam horas procurando a do Messi, a do Cristiano Ronaldo ou a brilhante com o símbolo de Honduras.

Para quem prefere uma máscara preta, tudo isso pode parecer bobagem, falta de espírito crítico ou sintoma da despolitização do brasileiro. Quem não tem a pretensão de carregar o peso do mundo nas costas, no entanto, consegue encarar o momento como uma simples e necessária pausa para a diversão. "O brinquedo essencial do homem é a bola", escreveu Paulo Mendes Campos.

A Copa é exatamente isso. Uma ótima oportunidade para reunir os amigos e familiares, confraternizar com os vizinhos, lembrar-se da infância, jogar conversa fora e conhecer gente nova. Alegrar-se, enfim, o que não significa concordar com o desperdício de recursos ou deixar de cobrar das autoridades o tal legado –as eleições, aliás, estão aí, na sequência, justamente para isso.

Além disso, mesmo que fique muito longe de ser a "Copa das Copas", como prometeu o governo, o evento pode contribuir para promover a imagem do país no exterior, vender nossos principais destinos e aumentar o fluxo de turistas. Pode parecer pouca coisa, mas não é. A audiência da Copa é estimada em 3,6 bilhões de telespectadores –metade da população do planeta.


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