Folha de S. Paulo


Lei da maconha

SÃO PAULO - Se já não bastasse a Prefeitura de São Paulo tentar acabar com a cracolândia dando dinheiro para dependente comprar droga, um projeto de lei em discussão na Câmara dos Deputados propõe liberar a venda de maconha no país com o objetivo alegado de reduzir o poder do narcotráfico. Estamos na era da ingenuidade?

Inspirado no Uruguai, o projeto nº 7.187/14, do deputado Eurico Júnior (PV-RJ), libera o cultivo em "âmbito doméstico" (até seis plantas de Cannabis) e a venda de, no máximo, 40 gramas por usuário a fim de "reduzir a incidência do crime organizado e proteger os habitantes do país". Alguém realmente acredita que o PCC e as demais facções criminosas, que, aliás, não vivem apenas da maconha, perderiam o sono com a liberação da droga?

Evidentemente não. O cigarro é permitido no Brasil e nem por isso o comércio de tabaco ilegal (contrabandeado, falsificado ou feito no quintal) é inexpressivo. Estima-se que, a cada 100 cigarros consumidos no país, 27 não paguem imposto. Com a maconha não seria diferente. Continuaria a ser um negócio altamente rentável para a criminalidade.

Além disso, a liberação da compra da maconha, trampolim para outras drogas, sobretudo entre os jovens, potencializaria o número de consumidores, já que não haveria mais o efeito inibidor da estigmatização social ou do receio de cometer algo ilegal. Se hoje 1,5 milhão de brasileiros já fumam maconha diariamente, de acordo com estudo da Unifesp, imagine com o respaldo oficial.

Apesar de toda a mística em torno da maconha, similar ao romantismo pueril de antigamente com o cigarro, o seu uso é prejudicial à saúde. O consumo contínuo aumenta o risco de doenças cardiovasculares, de câncer no sistema respiratório, de diminuição da memória, de depressão etc. O país, que há anos desestimula o consumo de cigarro com medidas restritivas, vai agora fomentar o da maconha?


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