Folha de S. Paulo


Depredação livre

SÃO PAULO - A redução no preço da tarifa não pode encobrir o fato de que o centro de São Paulo virou terra sem lei na noite de anteontem, tomada por vândalos travestidos de manifestantes e abandonada pela polícia. Houve ataques a prédios públicos, saques a lojas e depredações.

A escalada da insensatez começou na quinta-feira passada, quando a polícia "arrepiou" um protesto pacífico. Todo o mundo apanhou: manifestantes bem-intencionados, manifestantes mal-intencionados e até mesmo não manifestantes.

Até então, embora a maioria da população simpatizasse com a causa original dos protestos (a redução das tarifas), havia uma ampla crítica às cenas de vandalismo protagonizadas dias antes por mal-intencionados, que, destruindo ônibus, metrô e pichando muros, imaginam estar promovendo a "revolução".

Pois Alckmin conseguiu perder a opinião pública. A pancadaria da polícia acabou por criar um sentimento generalizado de indignação, destampou insatisfações, ampliou muito a adesão ao movimento e o exportou para várias cidades.

E isso nitidamente acuou autoridades, que, desde segunda-feira, permitiram, não apenas em São Paulo, que os protestos avançassem para além do que pode se considerar aceitável numa democracia. A Assembleia do Rio foi depredada, o diretor-geral da Câmara dos Deputados foi agredido, agências bancárias foram quebradas em Porto Alegre e a Prefeitura de Belo Horizonte foi atacada.

Apesar de toda a poetização em torno do Movimento Passe Livre, e da efetiva redução na tarifa, é necessário registrar que seus líderes não condenaram enfaticamente os atos de vandalismo. Muito pelo contrário, os justificaram com o argumento de que eram fruto da "revolta popular" ou resultado da "intransigência" do poder público. Resta saber se o recuo de Alckmin e Haddad, um dia após a vandalização do centro, não servirá de estímulo para esse tipo de "método" de negociação.


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