Folha de S. Paulo


Um novo passo

Alberto Rocha - 27.ago.2017/Folhapress
Balões marcam encerramento de protesto do Vem Pra Rua, na av. Paulista
Balões marcam encerramento de protesto do Vem Pra Rua, na av. Paulista

Escrevo hoje minha última coluna na Folha. Após meses de considerações e muita reflexão pessoal, decidi filiar-me ao Partido Novo e explorar seu convite para concorrer às eleições para o governo do Estado de São Paulo.

O Movimento Vem Pra Rua estimula seus participantes a concorrer a cargos eletivos, mas exige que, diante de tal decisão, eles se afastem do Movimento, para evitar conflitos de interesses na utilização de um plataforma suprapartidária com alto poder de alcance e capilaridade. O mesmo se passa com a Folha, que por motivos semelhantes não tem pré-candidatos como colunistas.

Despeço-me depois de 35 artigos, escritos a partir de março. Foi-me dada total liberdade de expressão, na forma, na temática e no conteúdo. Procurei utilizar este valioso espaço para compartilhar visões da estrutura política brasileira, os principais gargalos de nossa democracia pouco representativa e os caminhos que a sociedade tem hoje para influenciar seus governantes e, consequentemente, seu futuro.

O desafio que impus a mim mesmo foi o de escrever sobre temas nem sempre atraentes, e frequentemente complexos, de forma simples, direta e leve, enfrentando o risco de ser julgado como superficial. Foi um exercício que muito me enriqueceu, e me ajudará na próxima fase.

Antes de encerrar, quero compartilhar a visão que tenho para o Brasil nos próximos cinco anos.

Ela começa com uma sociedade significativamente mais madura do que nas eleições de 2014, há meros três anos. Enxergo pessoas mais interessadas e mais bem informadas, com a consciência de que, com esse sistema, não vamos a lugar algum. A população percebeu que estamos no ápice do fracasso do sistema político, partidário e eleitoral. E que, sem alterá-lo, esperar por mudanças na realidade social e econômica é puro autoengano.

Mais do que bem informados, os brasileiros perceberam que, quando unidos, têm mais poder do que imaginavam. As consequências desta nova realidade refletem-se não apenas em novas perspectivas, mas no ritmo em que essas mudanças acontecerão.

Com as novas tecnologias, quase tudo é possível. Por isso, enxergo daqui para frente os brasileiros praticando vigilância e responsabilização política. Enxergo um exército de voluntários do bem exercendo cidadania de forma inédita, organizada e eficiente. Enxergo um bando de cidadãos obstinados e patriotas, inconformadas com um país de 207 milhões de pessoas, que foi sequestrado por 20 mil bandidos exigindo resgate diário e eterno.

Enxergo um processo de educação e conscientização que irá mudar os hábitos e, com o tempo, a cultura, tanto dos cidadãos quanto dos políticos. Enxergo uma forma dura, contundente e pacífica de mudar o Brasil mais rapidamente do que se imaginou possível.

E há muito mais por vir. Projetos de transparência sobre os políticos da velha guarda vão acelerar o processo de renovação. A utilização inteligente de dados vai trazer uma dinâmica inédita para as eleições do ano que vem.

Em 2019, deveremos ter um bloco novo no Congresso, composto por políticos que pensam mais no país do que em si mesmos. Esse bloco, ao mostrar as possibilidades de se fazer diferente, abrirá caminho para uma renovação ainda maior em 2022. Lá, se conseguirmos eleger 100 parlamentares 2.0, trocaremos o trem Brasil de trilhos.

É com essa visão que decido agora correr mais riscos, dar a cara para bater novamente, verificar, na prática, se posso fazer diferença.

Demos apenas os primeiros passos para construirmos uma Nação, e há muito mais para fazer pela frente.

Até breve!


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