Folha de S. Paulo


PSDB, sob velha direção

Temer depende de Aécio, Aécio depende de Temer. Aécio ajuda Temer, Temer ajuda Aécio.

Temer se diz vítima de uma conspiração. Aécio se diz vítima de uma ardilosa armação (curiosamente, de "empresários inescrupulosos", a quem ele revela ter voluntariamente pedido "empréstimo").

Nem Aécio, nem Temer, conseguem produzir algo de positivo para o país. Passaram os últimos cinco meses defendendo-se de acusações gravíssimas. Enquanto o Brasil fica empacado, os outros países continuam a se modernizar e desenvolver, nos deixando a comer poeira.

Entre denúncias, compras de apoio, chantagens, barganhas, trocas de assentos e favores, jogou-se no lixo o segundo semestre de 2017, o último que trazia reais possibilidades de reformas estruturais. Acabou. A partir de 2018 só se falará em eleições.

Aécio e Temer são o retrato da desesperança no Brasil. Além de senador e presidente da República, são caciques dos dois maiores partidos do Brasil. Tiveram todo o poder nas mãos, e com ele a oportunidade de recuperar parte do terreno perdido na última década. Atuaram como aliados, e agora se enfraquecem juntos, abraçados.

O retrato do Brasil mostra, de um lado, um PT desmascarado e uma esquerda desnorteada por um ex-líder atolado na justiça criminal até o último fio da barba, cercados de mentiras e amparados por um autoengano pueril e patológico.

Do outro lado do retrato, Temer e Aécio abraçados, acusados, acuados, tentando desesperadamente manter seus mandatos e foros, num governo que nada mais de bom conseguirá produzir. Não é difícil entender a apatia da sociedade.

O PSDB é o novo PMDB. Seu presidente ainda é... Aécio Neves! O partido que se separou do PMDB em 1988 por causa de suas práticas, agora as tem como norma. Aécio e PMDB hoje se confundem na selva do corporativismo parlamentar. A tropa de choque para evitar que Aécio perdesse o mandato foi composta por Romero Jucá, Renan Calheiros e Eunício Oliveira, todos do PMDB.

O PSDB virou um partido velho, um clássico representante da política tradicional. Pela sede de poder e impunidade, não consegue implementar as mudanças necessárias: mudar a direção, criar governança com tolerância zero, limpar quadros comprometidos, democratizar as decisões internas, adotar práticas partidárias modernas e sustentáveis. Ao não ter unidade para se refundar, caminha em direção a um muro, enquanto perde bons quadros e, o mais grave, eleitores.

Como se tudo isso não bastasse, Doria e Alckmin retomam a prática mais tradicional do partido: a disputa interna pela presidência da República, com seus inevitáveis rachas. E para completar o dramatismo da novela política, diante da atual preferência por Alckmin dentro do partido, existe a possibilidade de Doria se aliar a... Temer!, fechando a roda PSDB-PMDB.

Apesar de aflitivo para quem quer ordem e progresso no país, tudo isso abre uma grande avenida para candidatos e partidos novos, que têm a oportunidade de ocupar os espaços abertos pela política tradicional. (Nota importante: apenas mudar de nome não é suficiente para mudar o partido). Da mesma forma que as eleições de 2016 destruíram, para o bem do país, o PT, as eleições de 2018 podem trazer novos avanços.

A renovação política é inevitável, mas sua magnitude, incerta. Ela dependerá do engajamento da parcela mais atenta da sociedade, e de sua disposição em pegar esse cavalo pela crina para conduzi-lo, finalmente, para frente.


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