Folha de S. Paulo


Arremedo de solução

No domingo último, fui ao Maracanã participar de sua grande festa de reinauguração. O estádio ficou lindo, a organização do evento foi excelente e quase tudo funcionou perfeitamente.

Mas se por um lado o Rio de Janeiro passou a ter uma casa de espetáculo à altura do que de mais moderno existe no mundo, o benefício que ela trará para a melhoria do futebol é no mínimo questionável.

Há muito sabemos que o declínio da qualidade relativa do futebol brasileiro pode ser em grande parte atribuído à forma amadora com que ele continua sendo gerido quando comparado a muitos países. A saída passaria pela profissionalização da gestão de federações e clubes buscando, entre outros aspectos, a melhor exploração das oportunidades de geração de receitas como forma de custear os pesados investimentos nas divisões de base e de manter uma equipe competitiva em nível mundial.

Sim, a competição é em nível mundial já que, com a enorme difusão dos meios de comunicação, os jogos dos principais campeonatos europeus são televisionados para todos os países a ponto de hoje vermos nas ruas das cidades brasileiras, fora do período das Copas, mais crianças com camisas do Barcelona ou Real Madrid do que da seleção brasileira.

As fontes de receita para os clubes podem ser divididas em três grandes grupos: direitos de TV, marketing esportivo e bilheteria.

As receitas com a transmissão de TV no Brasil vêm subindo ao longo dos tempos e já alcançam valores significativos para alguns times.

As ações de marketing esportivo, que envolvem os tradicionais contratos com empresas de material esportivo e patrocínios, também cresceram, mas ainda há um enorme campo a ser explorado se levarmos em conta a enorme paixão dos torcedores pelos seus clubes e que a fidelidade deles à marca é total.

O que chega realmente, na maioria das vezes, bem próximo ao ridículo é a arrecadação com os ingressos dos jogos.

Algumas causas podem ser atribuídas a isto passando pela redução do público devido ao incremento dos assinantes em TV fechada de pay-per-view, a segurança nos estádios e a falta de ídolos jogando em equipes brasileiras.

Mas a qualidade dos estádios, aí incluindo não só o conforto das instalações como a qualidade dos serviços oferecidos, certamente reduzem as possibilidades de cobrança de ingressos mais caros.

Via de regra, o que tínhamos no Brasil eram estádios muito antigos, com concepções ultrapassadas. E com os clubes tendo baixíssima capacidade de investimento, pouco acontecia.

A iminência da chegada da Copa do Mundo promoveu por aqui, a exemplo do que ela e os campeonatos europeus de futebol proporcionaram a vários países daquele continente, a demanda por investimentos em modernização e construção de estádios.

Isto gerou uma expectativa positiva para os grandes clubes que viram a possibilidade de surgir a oportunidade de gerirem estádios modernos, financiados com dinheiro público, para a realização de seus jogos.

Pelo menos esta foi a solução adotada para o Corinthians com o Itaquerão, como também tinha sido a do Engenhão, estádio construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio, e que teve sua administração concedida ao Botafogo.

Mas, infelizmente, este não será o destino do novo Maracanã. Os clubes de futebol, únicos agentes geradores de renda capazes de viabilizar economicamente a manutenção dos estádios através de suas torcidas e dos mandos de campo de suas partidas, foram incompreensivelmente alijados do processo "competitivo" que levou à escolha de um grupo concessionário.

Aos clubes sobrou a alternativa de negociar com os agentes privados escolhidos, em clara situação de desvantagem, a transferência de grande parte do valor que somente eles têm, em troca do direito de poder jogar onde sempre foi a sua casa. E pior, tendo que ficar algemados a esta solução por décadas, impedindo assim que possam buscar alternativas em médio prazo.

A Copa certamente trará benefícios à infraestrutura do Rio e de outras cidades-sede. Quanto aos clubes locais, ainda é cedo para dizer...


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