Folha de S. Paulo


A Criança do Dia e a imaturidade dos adultos

Eduardo Knapp/Folhapress
Criança do Dia
Oito dos 26 entrevistados na série 'Criança do dia'

SÃO PAULO - Não há experiência humana mais fascinante do que acompanhar o desenvolvimento de uma criança. Neste mês, a Folha se propôs um pequeno exercício reverso: buscar percepções de como elas, crianças, acompanham o desenvolvimento de nós, adultos.

O intento se deu por meio de entrevistas conduzidas pelos repórteres Fabio Victor e Paulo Saldaña. A série, que acaba neste Dia da Criança, ouviu 26 estudantes de 6 a 12 anos.

Em tempos de acalorados debates sobre a exposição de crianças a manifestações culturais, resulta ainda mais incrível observar a desenvoltura com que acessam informações —e a maturidade das visões daí derivadas.

"Tem coisas que a escola não ensina e a gente aprende sozinha, na escola da vida", explicou Beatriz Eduarda de Almeida Moraes, 11. "Os adultos são da antiga geração, as crianças são novas, a gente está aprendendo coisas diferentes, por conta própria", afirmou Laura Albergaria Guedes da Fonseca, 10.

No meio dessas "coisas que estão sendo aprendidas", dois aspectos chamaram especial atenção.

O primeiro é uma noção de singular clareza sobre a importância de acompanhar o que se passa no mundo. Notícia, definiu Marina Bobadilha Maciel de Oliveira, 9, "é uma coisa que acontece, boa ou ruim, mas as pessoas precisam saber".

O segundo aspecto foi a desconfiança generalizada em relação aos políticos. Da boca de Matheus Henrique da Silva Cruz, 12, saiu a mais direta análise já feita sobre o prefeito paulistano, João Doria: "Ele não é igual mas também não é diferente".

É gritante comparar o nível de argumentação das crianças com o do debate feito pelos adultos sobre a vida delas —no qual a discussão quase sempre recai sobre a responsabilidade penal, quase nunca sobre a responsabilidade cidadã. Talvez sejamos imaturos demais para entender o quanto as crianças já cresceram nesse segundo ponto.


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