SÃO PAULO - É divertido fazer troça do jornalista americano a quem escapou compreender que o biscoito Globo empacota não só uma maçaroca de polvilho, mas também um resuminho do incrível-da-vida que é ficar na praia em Copa.
Menos divertido é olhar o quadro de medalhas dos Jogos e constatar que a nos distanciar do mundo lá fora está bem mais do que uma questão gastronômica. Os reveses brasileiros em importantes esportes coletivos e o perrengue para chegar às mais de 20 medalhas imaginadas pelo COB e por analistas são um lembrete, ainda que simbólico, da cruel competição entre países que é o mundo.
Para quem passou uma ditadura abastecido pela ideia do Brasil Grande, acostumado a crer na panaceia da amarelinha, é um tapa na cara.
Somos um país continental. O quinto maior agrupamento de pessoas do planeta. A sétima maior economia. Nada disso, por si só, assegura vantagem definitiva. Mesmo assim, fazemos pouco da competitividade global e nos contentamos com um comportamento insular, com rala disposição a explorar o globo.
A importância do comércio exterior no nosso PIB não é nem metade da média mundial. Em proficiência no inglês, aparecemos no 41º lugar numa lista de 70 países. Temos uma percepção sub-representada do significado da Ásia, o lugar que mais e mais concentra a espécie humana —a explosão por lá diminui o peso relativo do berço esplêndido daqui.
Quem acha que a posição olímpica não significa nada além disso deveria olhar para Cuba, que chegou a ser uma das cinco potências do esporte. No lusco-fusco do regime, o país sua para entrar no top 20.
Nosso maior ciclo de investimento olímpico produziu uma festa bonita, suficiente para exterminar qualquer complexo de vira-latas. Mas não resultou num claro sucesso competitivo. Um pouquinho mais de sangue nos olhos e autocrítica não nos fariam mal em nenhum front.