Folha de S. Paulo


Votação no Reino Unido é ataque a poderosa ideia da humanidade

Marko Djurica-22.jun.2015/Reuters
A protester waves a European Union flag in front of the parliament building during a rally calling on the government to clinch a deal with its international creditors and secure Greece's future in the Eurozone, in Athens, Greece, June 22, 2015. Euro zone finance ministers welcomed new Greek proposals for a cash-for-reform deal on Monday but said they required detailed study and it would take several days to determine whether they can lead to an agreement to avert a default. REUTERS/Marko Djurica ORG XMIT: MDJ201
Manifestantes com bandeira da União Europeia se reúnem em frente ao Parlamento grego

SÃO PAULO - No porão onde Winston Churchill comandou a resistência inglesa aos ataques nazistas, sobrava espaço até para humor britânico. Quando os aviões alemães cruzavam o Canal da Mancha para despejar bombas em Londres, uma placa descrevia o clima lá fora como "windy" ("com muito vento").

Sete décadas depois, o humor embarcado nessa mesma travessia é involuntário: empresas britânicas oferecem pacotes de turismo "para a Europa", como se fosse outro lugar.

A votação no Reino Unido desova novo ataque a uma das mais poderosas ideias da humanidade. A União Europeia significa o mais ousado e civilizado passo já dado pelo sonho de um mundo sem fronteiras. Mas não só. Um dos principais historiadores do pós-guerra, o inglês Tony Judt, morto precocemente em 2010, definia-a como "a melhor instância para um entendimento sobre o equilíbrio entre Estado e sociedade, sociedade e indivíduo, bem-estar material e segurança social".

O francês Jacques Delors, que comandava a Comissão Europeia em 1993, quando foram retiradas barreiras para movimentação de pessoas pelo continente, elaborou de maneira mais espirituosa: "A Europa não diz respeito apenas a resultados materiais; é um estado da mente".

As críticas à vastidão do funcionalismo público no comando burocrático da UE por vezes eclipsam a força que o orçamento unificado teve em reduzir desigualdades na região. Brasília decerto não fez mais pelo Piauí do que Bruxelas pela Andaluzia.

As recidivas nacionalistas produzem barulho, mas pouco perto do provocado às terças e quartas pela Champions League, hoje um grande símbolo da identidade europeia.

O altíssimo desemprego entre os jovens e os solavancos do euro deixaram estrago no colchão social, porém não lograram destruí-lo.

Até aqui, a União Europeia resistiu a tudo isso. Não é pouca coisa, nem há de ser sem motivo.

roberto.dias@grupofolha.com.br


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