Folha de S. Paulo


Brasil 2014

Sei que não importa muito nem que faz qualquer diferença, mas como forma de registro para a posteridade, deixo aqui a minha previsão de que o vencedor da Copa de 2014 vai ser o Brasil.

Escrevo isto no dia em que se foi conhecida a composição dos grupos que vão disputar a primeira fase do campeonato do mundo de 2014. Não me parece que o Brasil sinta grandes dificuldades para ultrapassar as seleções da Croácia, México e Camarões.

A roda da fortuna ditou vida difícil para três antigos campeões mundiais, Uruguai, Inglaterra e Itália, num dos grupos mais emocionantes a resultar do sorteio - que novamente estabeleceu um caminho mais facilitado para a também campeã França, que carimbou in extremis o passaporte para o Brasil. Sorte também para a Argentina, que poderá ter em Messi o bota de ouro do torneio.

Para Holanda e Espanha, o Mundial começa como acabou o anterior. Também Portugal arranca com uma final contra a Alemanha, que é indubitavelmente uma das candidatas ao título. O grupo G não é assustador, mas não deixa de ser perigoso para as aspirações lusitanas: uma entrada com o pé direito poderá tranquilizar a seleção, que tem o dever de não subestimar os adversários teoricamente mais acessíveis (Gana e Estados Unidos).

Uma pitada de sorte, e a inspiração de Cristiano Ronaldo, poderão oferecer aos adeptos portugueses um Mundial memorável. Mesmo com o melhor jogador do mundo no nosso time (ah!), não nos atrevemos a garantir uma presença na final.

Essa é a obrigação do Brasil. Não é apenas por jogar o torneio em casa, frente à sua prodigiosa torcida, que a canarinha é a favorita à vitória. A seleção brasileira exibe um impressionante poderio físico, mas não depende da força bruta: o escrete está recheado de jogadores criativos, inteligentes, tecnicistas, espetaculares. Felipão é um técnico experiente e matreiro –uma "raposa velha" que é mestre em gerir um plantel talentoso.

Mesmo sem ter de passar pelas agruras da qualificação, a seleção brasileira demonstrou (e de forma bem convincente) com o seu comportamento na Taça das Confederações que tem a segurança, a flexibilidade, a imaginação e a solidariedade necessárias para bater qualquer adversário –a Espanha, a Alemanha, ou qualquer outra das favoritas.

É com esta manifestação de fé nas capacidades do Brasil que encerro esta coluna e me despeço dos leitores brasileiros. Durante os últimos três anos, procurei fazer uma leitura, necessariamente distante e estrangeira, dos acontecimentos esportivos no Brasil, e também apresentar à audiência brasileira uma realidade que é longínqua e diferente da sua.

Semanalmente, tentei variar e diversificar os temas tratados, mostrar personagens porventura desconhecidos, chamar a atenção para questões transversais que afetam o mundo do esporte e dos esportistas e se intersectam com a vida quotidiana do resto das pessoas "normais".

Espero sinceramente ter sido justa nas minhas críticas e razoável nas minhas opiniões. Admito que o exercício da crônica, e o desafio de alimentar uma coluna em nome próprio, está repleta de riscos: de cair na banalidade ou na ironia de mau gosto; de ser superficial ou simplista, ou pelo contrário, densa ou cifrada; de ceder à preguiça, à monotonia, ao óbvio, ao humor fácil e à emoção pirosa Terei, seguramente, sido culpada de alguns destes pecados. Mas, talvez, tenha sabido também entreter e introduzir questões pertinentes e interessantes no debate público. A todos que me acompanharam, muito obrigada, boa sorte e até qualquer dia!


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