Folha de S. Paulo


Portugal no play-off

Parabéns à Bélgica, que na sexta-feira assegurou a sua presença na Copa do Brasil. Os belgas montaram uma das melhores selecções da sua história depois de terem ficado de fora dos torneios da Alemanha (2006) e África do Sul (2010): a vitória de 2 a 1 sobre a Croácia garantiu-lhes a 12ª participação na fase final de um campeonato mundial, e com toda a justiça - seria uma pena não ter o brilhante Romelu Lukaku a mostrar o que vale no torneio brasileiro.

Os belgas juntaram-se aos italianos, holandeses, alemães e suíços, que carimbaram sem grande sofrimento o passaporte para o Brasil. Nós aqui em Portugal desperdiçamos a nossa oportunidade contra Israel (com dois empates, primeiro fora e ontem em casa) e agora temos de esperar que a próxima jornada seja miraculosa, com uma impensável derrota da Rússia e uma igualmente implausível goleada lusitana por mais de cinco golos ao Luxemburgo para ainda sonhar com o apuramento directo.

Mais do que ter de disputar o play-off para conseguir chegar ao Brasil, o pesadelo de que ainda não acordamos diz respeito à qualidade sofrível do jogo português. Não foi uma noite de azar, uma falha inesperada: a mediocridade tem sido manifesta ao longo da fase de apuramento.

Antes do jogo com Israel, o capitão Cristiano Ronaldo, em declarações optimistas, patrióticas e que só lhe ficaram bem, manifestava a sua confiança na qualificação directa. Não conheço um único português que partilhasse a mesma convicção, mas depois de assistir à prestação do time nacional, acho quase impossível encontrar alguém que não trema só de pensar que ainda poderá vir aí a França -- os nossos eternos carrascos.

Em noventa minutos para esquecer, as falhas defensivas foram outra vez gritantemente evidentes, assim como a ineficácia ofensiva, apesar de alguns arrombos inconsequentes. Os passes saíam errados, os posicionamentos eram incompreensíveis e as desmarcações pareciam mais obra do acaso do que de uma estratégia concertada entre os jogadores portugueses.

A expressão carregada e desiludida de Ronaldo após o encontro, e a sua resistência em exprimir as suas opiniões sobre o jogo, foram genuinamente portuguesas: o craque penitenciou-se por uma exibição menos conseguida, mencionou as mudanças por que o time passou e até sugeriu mais maturidade para ultrapassar o próximo desafio -- que vai ver da bancada, porque infantilmente levou um amarelo que o impede de entrar em campo contra o Luxemburgo.

O país inteiro espera que a selecção se safe na terça-feira, e mais espera que comece finalmente a jogar bem. É preciso acreditar, até porque, francamente, a selecção nacional ainda não convenceu ninguém que merece verdadeiramente participar na Copa de 2014.


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