Folha de S. Paulo


A natação mundial está bem e recomenda-se

Está de parabéns o Brasil e os atletas brasileiros pela sua notável prestação no Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de Barcelona. As jornadas no magnífico Palau Sant Jordi catalão, que só terminam este domingo, têm dado que falar todos os dias, e por bons motivos.

Se quiséssemos converter a tabela de resultados, o medalheiro e os comentários da crítica especializada num folhetim dramático (ou guião de novela), acabaríamos com uma trama de histórias com final feliz, momentos de recompensa, superação, consagração e redenção: a narrativa de Barcelona está isenta de vilões e desilusões - o que é praticamente inédito neste tipo de eventos.

Em Barcelona descobrimos novas mocinhas: por exemplo a impressionante Katie Ledecki, dos Estados Unidos, que raspou seis segundos ao recorde mundial dos 1500 metros livres (15'36.53). A sua prova foi perfeita, com Ledecki a deixar a nadadora dinamarquesa Lotte Friis marcar o ritmo e a saber aproveitar a braçada alucinante para atacar no momento certo, a 200 metros do fim.

Igualmente impressionante, a lituana Ruta Meylutite, que treina no centro para atletas de elite de Plymouth, no Reino Unido, e que, como garante a BBC, já não consegue andar incógnita pelas ruas do seu país sem ser assaltada por uma multidão em delírio. Vencedora do ouro dos 100 metros bruços, com um novo recorde mundial, a jovem de 16 anos continua tão desarmante como quando surpreendeu tudo e todos com o seu talento e simpatia nos Jogos Olímpicos de Londres.

O australiano James Magnussen, o "bad-boy" arrogante e indisciplinado na olimpíada de 2012, conseguiu lembrar-nos porque tinha feito tanto furor nos últimos mundiais de Xangai ao revalidar o título dos 100 metros livres, a prova rainha da modalidade.

E o norte-americano Ryan Lochte conseguiu fazer-nos esquecer a sua superficialidade e boçalidade de reality-show, com uma prestação desigual dentro de água mas uma bem-vinda candura fora da piscina.

Mas a maior emoção das provas em Barcelona tem a ver com a actual conjuntura competitiva na natação mundial. A modalidade atravessa um bom momento, com vários países a produzir atletas excepcionais e aguçar o apetite e curiosidade para as provas futuras.

O Brasil, mesmo ficando aquém do cumprimento das suas aspirações, deixou sinais muito positivos para a olimpíada de 2016. O elevado nível competitivo dos seus atletas, e a inspiração adicional de nadar em casa, certamente farão disparar para a estratosfera as expectativas - e as responsabilidades - para o torneio olímpico do Rio de Janeiro.


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