Folha de S. Paulo


Wimbledon fabrica novos heróis

Ao contrário do que se chegou a pensar, a "débacle" dos primeiros dias do torneio de ténis de Wimbledon acabou por não retirar nenhuma da espectacularidade e nem do dramatismo - e tão pouco da competitividade - à vetusta e fleumática competição britânica, o único Grand Slam jogado na relva.

As estrelas maiores do esporte - Rafael Nadal, Roger Federer, Jo-Wilfried Tsonga; Serena Williams, Victoria Azarenka, Maria Sharapova - foram surpreendentemente afastadas nas primeiras rondas; os protestos dos atletas relativos às condições dos courts deixaram a organização à defesa; e o número pouco habitual de lesões não só obrigou os fisioterapeutas a cumprir horas extraordinárias como continuou a pairar como mau agouro depois da primeira quarta-feira da competição: o dia fatídico que entrou para o livro dos recordes como uma espécie de "twilight zone" do ténis mundial após a saída de dez atletas de topo.

Perante algo tão inusitado, houve quem se desinteressasse da edição de 2013. Puro engano, como provaram os confrontos da segunda semana - a montanha-russa emocional a que o escocês Andy Murray submeteu a bancada repleta do court central antes de derrotar Fernando Verdasco nos quartos-de-final, ou a sensacional batalha de sexta-feira entre Juan-Martin del Potro e Novak Djokovic, que depois de quatro horas e 44 minutos garantiu ao sérvio o direito a jogar mais uma final, amanhã, e eventualmente coleccionar o sétimo título da sua carreira.

No lado feminino, a final produzirá inevitavelmente uma nova campeã: sem as "suspeitas" do costume, sairá coroada ou a francesa Marion Bartoli, famosa pelas suas excêntricas manobras de concentração ou aquecimento, ou Sabine Lisicki, a primeira alemã a chegar até à final depois de Steffi Graf (em 1999). Ambas fizeram um torneio notável, particularmente Lisicki, que na Alemanha é tratada por "Boom Boom" e é a minha candidata à vitória - e também a do público, informa a imprensa britânica.

Apesar de tudo, não sou dos que já vêem nesta torneio a prova dos nove de uma mudança de paradigma no ranking do ténis, com o ocaso dos dois homens que dominaram os circuitos nos últimos anos e o zénite dos seus eternos perseguidores Djokovic e Murray. Acredito que Nadal e Federer ainda têm muito para dar - mas ao mesmo tempo congratulo-me pelo facto de não ser essencial a sua presença para que a modalidade possa provar a sua excelência e vitalidade.

É certo que para os patrocinadores e as organizações, que "capitalizam" mais com a presença dos nomes consagrados, o torneio de 2013 não correu como esperado. Mas a imprevisibilidade dos resultados, e a oportunidade de assistir ao despontar de um futuro campeão, continuaram a atrair os entusiastas da modalidade.

Este ano, Wimbledon revelou a humanidade e fragilidade dos nossos ídolos, e fabricou uma série de novos heróis do ténis: por exemplo, aqui em Portugal, Michelle Larcher de Brito, que tinha falhado as previsões iniciais relativas a uma carreira promissora, e voltou a saltar para a ribalta depois de eliminar a favoritíssima Maria Sharapova numa demonstração categórica da qualidade do seu jogo.


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