Folha de S. Paulo


Uma visita ao parque

Inspiradas, talvez, pelo sucesso das operadoras turísticas que ofereceram programas a pé durante os quais se podia apreciar o ritmo da construção do estádio, centro aquático ou da batata-frita Pringle que viria a converter-se no velódromo dos Jogos Olímpicos de 2012, começam este fim-de-semana em Londres as visitas guiadas ao antigo parque olímpico de Londres --que depois dos eventos esportivos do Verão passado foi encerrado para uma demolição parcial e reabilitação urbana, orçada em cerca de 550 milhões de libras e que se vai prolongar até ao final de 2014.

Explica a organização do "legado de Londres", que substituiu o comité organizador da olimpíada, que "muita gente queria poder voltar a entrar no parque e ver o que estava a mudar lá dentro, porque tinham gostado tanto da sua experiência durante os Jogos Olímpicos". Até agora já foram vendidos 20 mil bilhetes.

A visita inclui uma subida até ao topo da torre ArcelorMittal, mesmo ao lado do estádio olímpico, que com mais de 80 metros de altura permite uma visão global da cidade de Londres. Os participantes, que terão de usar calçado fechado e caminhar com um capacete de segurança uma vez que se trata de um estaleiro de obra, já não poderão abastecer-se nas lojas de souvenirs nem saciar-se no maior restaurante McDonald's do mundo --tal como a arena do basquetebol ou o campo de hóquei, essas construções foram já desmanteladas.

Mas, como sublinha a organização, os visitantes "poderão checar o que está a acontecer no local neste momento, e perceber quais são as novas atracções que vão aparecer no futuro".

Tal como os circuitos durante a construção foram uma boa ideia para conquistar a população, dar forma aos planos que foram sendo apresentados no papel e alimentar o entusiasmo para os eventos esportivos, também as visitas nesta fase posterior de reconstrução me parecem importantes para garantir que o público britânico (e internacional) possa continuar a cumprir o seu papel de vigilância de uma iniciativa para a qual contribuiu financeiramente com os seus impostos.

Claro que muitos dos que se inscrevem nas visitas guiadas buscam o seu aspecto de recreio. Mas ao mesmo tempo que oferecem divertimento, elas servem também para abrir a cortina de um local de acesso restrito ou vedado: por mais coreografadas que sejam, elas acabam por assegurar a transparência dos trabalhos. Parece-me fundamental que aqueles que suportam a execução das obras através dos impostos, e aqueles que beneficiam com a sua conclusão enquanto residentes ou visitantes, possam fiscalizar o processo enquanto ele ainda está em curso.

É um exemplo que julgo que o Brasil, onde decorre uma mega-operação de construção com múltiplas frentes, devia considerar --antes de lançar os foguetes inaugurais, e depois de apanhar as canas.


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