Folha de S. Paulo


O ano é novo mas a polémica é velha

Aqui em Portugal, a escolha de Lionel Messi como o melhor jogador de futebol de 2012 pela Fifa gerou crítica e amargo de boca: previsivelmente, o pessoal defendeu que o que era justo era que o eleito fosse Cristiano Ronaldo.

Já li infindáveis comentários nas redes sociais e caixas de comentários a detonar a entrega da Bola de Ouro a Messi --e outras tantas respostas a ridicularizar as pretensões de Cristiano Ronaldo ao mesmo troféu. É um exercício interessante e divertido, e que inevitavelmente não permite retirar nenhuma conclusão válida.

Os critérios da Fifa são objectivos na medida em que permitem estabelecer uma norma para a composição da lista de candidatos, mas são totalmente subjectivos no que diz respeito à liberdade de cada um dos eleitores no momento da votação. Discutir uma opinião ou preferência individual como se se tratasse de uma ciência exacta é absurdo.

Por isso não admira que haja quem se alheie da discussão das qualidades/características dos jogadores em causa e se entretenha a enumerar argumentos para confirmar a tese de que o concurso da Bola de Ouro é uma autêntica conspiração da Fifa, essa entidade que todo o mundo sabe ser corrupta até ao tutano.

Os indícios de corrupção e trocas de favores na Fifa são por demais e indesmentíveis, mas nem mesmo as nebulosas e sempre desagradáveis manobras de bastidores lançam suspeita sobre a lista de candidatos aos troféus de 2012.

A entrega da Bola de Ouro por quatro anos consecutivos ao jogador argentino - detentor do recorde de golos numa época, recorde de golos na liga e recorde de golos na Champions - é a coincidência que, como refere o editor da BBC Phil McNulty, consagra definitivamente a "era Messi".

Azar que o fenomenal Cristiano Ronaldo - como o brasileiro Neymar - tenham que competir com o génio da Argentina. Mas sorte para todos os que gostam de futebol que estes jogadores extraordinários se encontrem numa forma tal que parece impossível o consenso sobre quem é o melhor.

Se os prémios de 2012 mostram alguma "conspiração", ela é a do domínio e influência do futebol espanhol sobre os restantes campeonatos. Esqueçam a emoção da liga inglesa, o cinismo dos italianos ou a competitividade dos alemães. No topo das listas dos prémios estavam jogadores e treinadores que actuam na Espanha (aliás, para ser mais precisa, que se encontram ao serviço do Real Madrid e do Barcelona, que contribuíam com cinco nomes para a equipa do ano escolhida pela France Football --o 11º jogador do time-maravilha era Radamel Falcao que alinha no Atlético de Madrid).

O facto de ter sido atribuído o galardão do melhor treinador do ano ao espanhol Vicente Del Bosque também fez disparar os nervos de alguns dos meus compatriotas. Nesse ponto, estou mais tentada a concordar que o troféu foi parar às mãos erradas, e não é por uma questão de nacionalidade.

Tudo bem que o seleccionador da Espanha foi campeão da Europa (depois de ter sido campeão do Mundo), mas será que o seu verdadeiro mérito na direcção da equipa nacional não é o de ter conseguido encaixar quatro ou cinco peças ao esquema montado pelo técnico do Barcelona?

Pelo contrário, José Mourinho e Pep Guardiola, os outros candidatos ao prémio da Fifa, não só desenharam o modelo de jogo para as suas equipas como foram responsáveis pela construção dos respectivos plantéis dos seus clubes.


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