Folha de S. Paulo


Dilma, o governo e a lista Janot

O suspense que cerca a lista Janot remete imediatamente ao filme "Inside Job" ("Trabalho Interno", na tradução brasileira).

Para quem não conhece, o documentário de 2010 mostra sem meios-tons como foi conduzida a crise econômica que mergulhou o mundo num atoleiro (alô, "The Economist"!) do qual ele não saiu até agora. Meia dúzia de bilionários, junto com o governo americano, decidem quem vai quebrar (e depois se levantar, claro), quem vai se salvar e como apagar as digitais da lambança criada pela especulação sem fim do capital financeiro.

Esqueça as manchetes de jornais, sites e programas de rádio e TV. A lista Janot vem sendo objeto de negociações nervosas, tensas, à luz do dia ou na calada da noite. Motivo? Simples: se explorada às últimas consequências, a papelada vai escancarar a relação promíscua entre o empresariado nacional (e internacional) e o poder público doméstico, seja qual for o partido de plantão.

Só isso explica tanto segredo. Os vazamentos chancelados pelo juiz Sergio Moro não passam de aperitivo selecionado. Qualquer bacharel recém-formado, sem precisar de condecorações da Escola Superior de Guerra, é capaz de impugnar a investigação. Como fizeram com a Castelo de Areia ou com a Satiagraha. Depende de quem vai julgar...

O cidadão, entre atônito e curioso, assiste a um enredo de novela estendida conforme os índices de audiência. Os elementos se renovam diariamente: invasão da casa do procurador, ameaças de morte, encontros furtivos com advogados, Ministério Público contra AGU, CGU. Angu não falta. O grande mistério é a receita a ser vendida ao público.

A LEI, ORA A LEI

1. Existe uma norma exigindo limites mínimos de pressão para a água enviada aos domicílios. Em São Paulo, dane-se a lei. O próprio presidente da Sabesp admite que desrespeita o combinado. Consultou alguém? Legislou a respeito? Submeteu a decisão a alguma instância pública? Nada disso. Decidiu e pronto. A sorte dele é que, tirando o prédio, não existe Assembleia Legislativa no Estado.

2. O ministro Gilmar Mendes, falastrão do Supremo, está sentado em cima de um parecer sobre financiamento de campanhas eleitorais. Como se sabe, a maioria do STF já decidiu pela proibição de dinheiro de empresas em campanha. O regimento do tribunal fixa em 30 dias o prazo para um parecer sobre as vistas de um processo, tal qual o pedido de Mendes. Já se passaram meses, e o que ouvimos é o ministro Toffoli dizer que nem sempre é assim!

3. Minha conta de luz de fevereiro subiu 40% em relação a fevereiro do ano passado. O kWh passou de R$ 0,34 para R$ 0,48. E sou informado de que vem mais aumento pela frente. A presidente Dilma acha que vai resolver coisas como estas com advertências verbais ao ministro Joaquim "Silvério" Levy?

4. Num tempo em que racionamento e falta d'água foram promovidos a crise hídrica, estou pensando em procurar meu gerente do banco para dizer que vivo uma crise de liquidez. Se ele reclamar, vou seguir a moda. Só muda o santo. Em vez de Pedro, vou recomendar Expedito. Será que o banco aceita?


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