Folha de S. Paulo


Confetes

Até certo ponto, o reaproveitamento de temas é inevitável nas seções fixas do jornal. Desde que respeitados os limites do bom senso, a prática não é necessariamente negativa. Basta que o assunto tenha relevância, e que o tratamento dado a ele acrescente algo ao já sabido.

O segundo requisito vem sendo negligenciado, semana após semana, na seção "Educação", editada no terceiro caderno.

A reportagem de segunda-feira passada apresentou como notícia o diagnóstico de que "a participação dos pais, o apoio da comunidade e a liderança de um diretor são as características que fazem a diferença em escolas públicas."

Longe de mim contestar a avaliação. Também não se trata de negar importância ao debate sobre soluções para o ensino público.

Mas, como observei na crítica interna, esse bordão já foi repetido inúmeras vezes pelo jornal. Para retomá-lo era necessário aprofundar a discussão, dela extraindo alguma novidade.

Em vez disso, fez-se o de sempre: mencionar uma pesquisa (feita há seis anos) e duas ou três declarações que a corroborem.

Nenhum elemento contraditório. Zero de esforço e de originalidade.

Dois dias depois, o "Painel do Leitor" trouxe uma carta com rasgados elogios à reportagem. Até aí, ninguém é obrigado a concordar com a ombudsman. Acontece que a mensagem era assinada pela secretária estadual da Educação, Rose Neubauer, uma das três autoras da pesquisa citada na matéria. A carta não foi acompanhada deste esclarecimento.

Já é ruim que o jornal venha descuidando de um espaço reservado a assunto tão essencial quanto a educação. Aceitar confetes de parte interessada na reportagem só piora a situação.


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