Folha de S. Paulo


Sem respostas

Armando Paiva/Agif/Folhapress
Paulo Rabello de Castro em cerimônia de posse como novo presidente do BNDES
Paulo Rabello de Castro em cerimônia de posse como novo presidente do BNDES

Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES há pouco mais de um mês, fala muito mas diz pouco. O economista é loquaz na defesa política do governo Temer e evasivo nas explicações substantivas sobre as operações do banco. A verborragia de Rabello já levou dois diretores a pedir demissão.

Com o barulho que lhe é habitual, Rabello lançou, na sexta (14), um documento chamado "Livro Verde - Nossa História Como Ela É". Em suas palavras, uma "contabilidade escancarada" do banco estatal.

Os que vencerem as mais de 200 páginas, contudo, sairão sem respostas para temas momentosos, como os motivos que levaram o banco público a despejar R$ 8,1 bilhões na JBS.

Não se extrai do relatório por que o banco concentrou tanto dinheiro na JBS, financiando compra atrás de compra. Tampouco por que ainda tem um quinto das ações da empresa e se poderia ter lucrado com a venda de sua participação em tempos mais gordos.

A ausência de explicações torna-se ainda mais conspícua diante das seguidas declarações de Rabello à frente do BNDES. Quando Temer declarou guerra a Joesley Batista, ele alistou-se à causa, carregando o banco na baioneta. Falou em capitanear um movimento para sacar a família Batista da gestão da JBS. Mas recusa-se desde então a esclarecer se a ideia tem respaldo da área técnica, quais acionistas o apoiam e se tem uma proposta para resgatar a companhia.

A JBS é mencionada em apenas dois trechos do documento. Num deles, Rabello faz as contas para mostrar que o investimento no frigorífico deu lucro. Chega à soma de R$ 3,560 bilhões, usando dados até 31 de dezembro de 2016.

Por limitar-se ao ano passado, a contabilidade é conveniente ao banco. Desde então, veio a Carne Fraca, a Bullish e a delação dos irmãos. As ações da JBS caíram quase 40%. O lucro já minguou para perto de R$ 1 bilhão.

Rabello, reconheça-se, dá curso à tradição petista de não prestar contas sobre o que BNDES faz ou deixa de fazer. Durante anos, o banco se recusou a dar detalhes das operações com os chamados "campeões nacionais" –entre eles, os irmãos Batista.

Recentemente, a gestão de Maria Silvia Marques evitou explicar por que vetou a mudança da sede da JBS para a Irlanda. O BNDES disse que não queria "desnacionalizar" a empresa. Mas achou que não era o caso de dizer por que a transação seria ruim para o banco.

O BNDES, aliás, não está sozinho nessa. A Caixa, outro banco estatal, nega-se a informar quanto a JBS deve a ela –sabe-se que é um dos maiores credores– e quanto já levantou com a venda de ações da empresa. Em 2013, o governo Dilma transferiu à Caixa ações correspondentes a 10% da JBS. Desde então, metade dos papéis foi vendida. Por quanto? Também quero saber.


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