Folha de S. Paulo


Petrossauro e Bolsonassauro

A Petrobras vale hoje, no mercado, R$ 135 bilhões, pouco mais de um sexto do que valia em 2008 (R$ 737 bilhões). A diferença, R$ 602 bilhões, corresponde a quase 25 anos de pagamento do Bolsa Família (dados de 2013). Sei que o valor não é conversível em benefícios sociais. Forneço uma grandeza para que os leitores percebam como a República dos Companheiros distribui riquezas... Nessa conta não entra a roubalheira de Abreu e Lima, Pasadena e outras. A dívida da empresa está em R$ 330 bilhões, quase 7% do PIB e 2,4 vezes o seu valor de mercado, aquele que abre este parágrafo. Entre a primeira e a última linhas, o que se tem é a crônica da impostura, da empulhação e da safadeza.

A conclusão é inescapável: o PT privatizou a Petrobras e quebrou a empresa. É o fundo do poço! E extrair o petróleo que se esconde nesse fundo começa a ser antieconômico. Deixá-lo inerme nas camadas do pré-sal está no limiar de se tornar mais barato do que trazê-lo à superfície. Pior: o estúpido sistema de partilha adotado impõe à estatal o desembolso de um dinheiro que ela não tem. Que país resiste à mistura de incompetência e rapinagem?

Como eu não me perdoo pelo trocadilho, apelo à compreensão de vocês. A Petrobras é PTbras. É tolice imaginar que a empresa reúne uma notável coleção de descalabros excepcionais. Ela sintetiza um método. Assistimos à exposição de um modo de entender a coisa pública. Há duas semanas questionei aqui se estávamos diante de uma alternativa gerencial ou de uma organização criminosa. Um estafeta do PT, alimentado com o leite de pata das estatais e recebedor de capilé do doleiro Alberto Youssef, ficou zangado. Eliminou a minha dúvida: é uma organização criminosa.

BOLSONASSAURO

A estupidez disparada pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) não deixa margem a interpretações alternativas. Se ele diz a uma desafeta que não vai estuprá-la porque ela não merece, deve-se concluir o óbvio: segundo ele, algumas mulheres merecem o estupro, em particular aquelas que ele admira. "Ah, ela atacou primeiro!" E daí? Não dá! Eu estou pouco me lixando para o que ele pensa sobre o governo Dilma ou para o combate que dá ao PT e às esquerdas. Nem toda forma de enfrentar essa gente é civilizada. Defendi no meu blog, hospedado na Veja.com, e no programa "Os Pingos nos Is", da Jovem Pan, que, caso ele não a retire, tenha o mandato cassado. Reitero aqui.

Isso me rendeu o ódio dos seus admiradores (sei como lidar com "haters"), que fizeram uma petição pedindo à "Veja" a minha cabeça, acusando-me ainda de fazer charminho para as esquerdas. Vai ver faço esse charminho ao chamar a Comissão Nacional da Verdade de "farsa" e ao publicar os nomes das vítimas dos terroristas de esquerda (is.gd/6rkxTm). As opiniões de Bolsonaro não são "de direita"; são é grotescamente desinformadas. Há sempre mercado para a estridência oca e meio circense. Essa mistura de Tiririca com vivandeira não atrai a simpatia nem dos militares.

Bolsonaro serve é como um bom espantalho a esquerdistas os mais variados, inclusive do colunismo, que fingem ver ameaça da extrema direita até nos seus próprios exercícios manuais. Sem contar que o deputado ainda acabará fazendo de Maria do Rosário ministra –o que, convenham, caracterizaria um atentado à inteligência e, pois, a um direito humano.

twitter.com/reinaldoazevedo


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