Outubro de 2017 marca os cem anos de nascimento de dois gigantes do jazz: Dizzy Gillespie e Thelonious Monk. Para comemorar, vamos transcrever aqui duas entrevistas exclusivas feitas por um especialista no assunto, o crítico Leonard Plume, editor da revista "Down Bitch".
Mas não foi fácil entrevistar esses dois, que há muito tempo não estão mais neste planeta. Para realizar a tarefa, Leonard Plume usou o novo aplicativo "TheOtherSide", que faz downloads de espíritos. Uma observação: a entrevista com Thelonious Monk ficou mais curtinha porque, como todo mundo sabe, o idiossincrático pianista também era muito monossilábico.
Entrevista com Dizzy
Leonard Plume - Dizzy, você foi, ao lado de Charlie Parker, um dos criadores do "bebop". Mas acho que o nome de Charlie Parker foi mais cultuado e a figura dele se tornou um mito porque ele morreu drogado, depois de uma vida curta e trágica. Você era tão genial quanto ele, construiu uma obra mais vasta, mas, como você era um cara alegre e engraçado, alguns críticos não levaram a sua música tão a sério. O que você acha?
Dizzy Gillespie - É uma teoria. Pode ser que você esteja certo. As pessoas se amarram em artistas malditos, atormentados, que morrem afogados no próprio vômito, essas coisas... Mas eu sempre fui um cara pra cima. Eu levava a música a sério, mas sempre com muito humor. E pegava leve. O meu barato era só um cigarrinho de marijuana. Por isso eu morri aos 75. Meu amigo Charlie Parker morreu com 34 e o médico legista achou que o corpo dele era de um homem de 50 ou 60 anos.
Entrevista com Monk
Leonard Plume - Monk, é verdade que uma vez você foi convidado para fazer um workshop numa escola de música e, depois de pedir para os estudantes tocarem algumas composições, você parou, pensou muito, coçou a barba, falou "Continuem tentando" e foi embora?
Thelonious Monk - É.
Leonard - Você sabia que, depois de Duke Ellington, você é o compositor de jazz com mais músicas gravadas? E lembro que Duke Ellington tem cerca de mil composições e você tem só umas 70.
Monk - E daí? Para mim tanto faz. Eu já estou morto.