Folha de S. Paulo


Dizzy Gillespie para presidente

Jornalistas adoram datas redondas, efemérides e comemorações. Por exemplo, 30 de abril, que está chegando aí, é o Dia Internacional do Jazz. Mas não é só isso. Este ano de 2017 marca o centenário da gravação do primeiro disco de jazz, e também os cem anos de nascimento de Dizzy Gillespie, Ella Fitzgerald e Thelonious Monk. Enquanto jazzófilo assumido, que já saiu do armário há muito tempo, eu não poderia perder a oportunidade de falar dessas coisas. E, como se não bastasse isso tudo, a Folha está lançando nas bancas uma bela coleção de livros e CDs de jazz. (Quero esclarecer aqui que estou fazendo este merchandising gratuitamente. Juro que não houve pagamento de propina. Aliás, os caras nem me presentearam com uns livrinhos dessa coleção. Mas, tudo bem.)

Reinaldo Figueiredo/Folhapress
O crítico Leonard Plume tenta fazer uma selfie com a sua Rolleiflex
O crítico Leonard Plume tenta fazer uma selfie com a sua Rolleiflex

Voltando ao que interessa: Dizzy Gillespie, além de ter sido o inventor do bebop, ao lado de Charlie Parker, também foi responsável por outros lances inesquecíveis, como a sua candidatura a presidente dos EUA na eleição de 1964. Mas é melhor deixar ele mesmo contar a história. Para isso vamos reproduzir aqui um trecho de uma entrevista que ele deu para o crítico de jazz Leonard Plume, publicada na revista "Down Bitch", em 1964:

LEONARD PLUME -Dizzy, o povo quer saber: por que se candidatar a presidente?

DIZZY GILLESPIE - Na verdade, tudo começou meio de brincadeira. Uns amigos meus fizeram umas camisetas com a frase "Dizzy for President", só pra sacanear a eleição, mas aí percebi que eu não sou uma opção tão ruim assim. Os outros candidatos são Barry Goldwater e Lyndon Johnson! Cara, falando sério, eu sou muito melhor que eles!

LEONARD - Quais são seus planos de governo?

DIZZY - Para começar, vou mudar o nome da Casa Branca. Ela não vai mais se chamar White House. Vai ser a Blues House. E vou nomear Miles Davis para ser o diretor da CIA. Duke Ellington vai ser o Secretário de Estado, Thelonious Monk será o meu Embaixador Itinerante e Plenipotenciário...

LEONARD - Dizzy, desculpe interromper, mas eu entendo de propaganda e marketing. Será que eu poderia ser o seu marqueteiro?

DIZZY - Acho melhor não. Isso pode dar merda. Você sabe: "shit happens".


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