Folha de S. Paulo


Filhos criam conselho para gerir o espólio do dono do hotel Emiliano

O grupo hoteleiro Emiliano, que conta com a unidade nos Jardins, em São Paulo, e uma recém-inaugurada em Copacabana, no Rio de Janeiro, vai se manter como empresa familiar após a morte do seu fundador.

Os quatro herdeiros do empresário Carlos Alberto Filgueiras criaram um conselho de administração para estruturar a relação entre as empresas do ramo imobiliário e as do setor hoteleiro que fazem parte do espólio.

O conselho é presidido por Gustavo, 40, que já administrava os hotéis da família junto com o pai. A decisão foi tomada de comum acordo com os outros irmãos, o empresário Carlos Alberto Filho, 43, o advogado Carlos Emiliano, 42, e Carolina, 39, formada em hotelaria e responsável pelos spas e pela linha de cosméticos do grupo.

Todos os herdeiros são fruto do casamento do empresário com a advogada Maria Myrna Loy Guerra Filgueiras, que acabou em um divórcio litigioso em 1984.

Os irmãos se dizem unidos na tarefa de manter o legado paterno. "Perdemos a experiência, os insights e a visão do nosso pai, mas agora ao lado do meus irmãos vai ser uma coisa mais profissional", afirma Gustavo.

Investimento de R$ 140 milhões, o Emiliano Rio está funcionando no esquema "soft opening". Os Filgueiras têm como sócio um fundo imobiliário do BTG. O banco de André Esteves entrou como parceiro na aquisição do terreno e na construção do edifício numa área antes ocupada por um casarão onde era o consulado da Áustria na avenida Atlântica na orla de Copacabana.

Outra parte importante do patrimônio deixado pelo dono do Emiliano são as várias propriedades em Paraty, entre elas uma fazenda à beira-mar e uma ilha.

Era nos arredores da fazenda que o empresário planejava construir um resort de luxo. "É um projeto que acredito muito, um hotel de design, integrado ao meio ambiente e forte em serviço, o que é o nosso melhor," diz Gustavo.

O projeto esbarra em restrições dos órgãos ambientais. "Houve mudança da lei, tem que passar pela câmara e mudar o plano de manejo da Área de Proteção Ambiental que pega toda a região de Paraty", explica o diretor executivo do Emiliano.

AÇÃO PENAL
Na mesma região, Filgueiras se tornou réu em ação penal por crime ambiental na ilha das Almas, uma de suas propriedades na baía de Paraty. Em dezembro do ano passado, o ministro Edson Fachin, do STF, negou recurso do empresário para trancar a processo. Com a morte do réu, a ação penal será extinta contra Filgueiras.

Por uma particularidade do direito ambiental, o processo criminal continuará a correr contra a J. Filgueiras Empreendimentos e Negócios Ltda, empresa que pertencia ao dono do Emiliano.

"A ação foi proposta contra a pessoa física e a pessoa jurídica. Esta última, neste caso, continuará respondendo pelo crime", afirma Igor Miranda, procurador da República em Angra dos Reis.

O espólio e a J. Filgueiras também também respondem a uma ação cível, em que o Ministério Público pede a demolição de todas as construções irregulares na ilha.

Cinco outras ações envolvendo o dono do Emiliano estão em andamento no Superior Tribunal de Justiça.

CASO DERSA

Filgueiras também protagonizou embates com a Dersa, empresa pública responsável pela construção do Rodoanel. Em 2007, a Ama, uma dos negócios imobiliários do dono do Emiliano, teve um terreno desapropriado em Itapecerica da Serra.

"Meu pai teve reuniões com a Dersa objetivando buscar um acordo sobre a indenização que, ao fim do processo, foi bem inferior à pretendida", diz o advogado da família.

O empresário foi acusado também de operar no órgão estadual para beneficiar um amigo, o médico Radi Macruz, que tentava receber uma ação milionária cujos valores eram contestados na Justiça. Em 2004, o ministro Teori Zavascky, então no STJ, deu um voto favorável ao cardiologista, mas o caso ainda segue em trâmite no Supremo Tribunal Federal.

"A amizade do meu pai com o ministro era recente e Teori era homem da maior integridade moral. Meu pai jamais teve o poder de influenciar o judiciário. Posso afirmar isso na condição de advogado de diversos processos, nos quais tivemos decisões adversas", diz Calos Emiliano.

Outro imbróglio jurídico que envolveu indiretamente o dono do Emiliano é uma ação de execução no valor de R$ 1,5 milhão contra a incorporadora norte-americana Tishman Speyer, que comprou um terreno da empresa que pertencera a Filgueiras e ao cantor Roberto Carlos na década de 1990.

A venda aos americanos foi feita pela Chácara dos Bambus Empreendimentos, novos donos do negócio. "No momento da venda havia essa discussão judicial indefinida, mas também havia valioso patrimônio, que cobriria este passivo", afirma Carlos Emiliano, filho de Filgueiras que está se inteirando das pendências jurídicas deixadas pelo pai.

A Tishman Speyer vem recorrendo desde que a Justiça determinou ser ela a responsável pela dívida. Há duas décadas, o condomínio Azul e Branco, vizinho do Emiliano em SP, espera reparação por danos ocorridos durante a construção do prédio que hoje abriga o icônico hotel.

Em nota, a Tishman Speyer diz não ter relação pessoal com Filgueiras. "Discute-se em juízo apenas a questão relativa à responsabilidade que poderia advir de aquisição de imóvel."


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