Parece que tudo já foi dito sobre o badaladíssimo e, na mesma medida, criticadíssimo casamento de Preta Gil e Rodrigo Godoy.
A festança chegou a ser comparada ao baile da Ilha Fiscal, promovido por dom Pedro 2º em 1889 e que passou para a História como o rega-bofe nonsense da derrocada do Império.
Menos. Pura inveja misturada a mau humor e boa dose de preconceito de todo o tipo: racial, contra gordos e, pasmem, até contra ricos!
Depois do "casamento ostentação", a patrulha da felicidade alheia agora vai encontrar farto material para continuar a implicar com a lua de mel de conto de fadas do casal.
Com 2,4 milhões de seguidores no Instagram, a cantora não se intimidou com a avalanche de comentários negativos sobre os custos da festa no melhor estilo 0800 (quase sem custo).
Estimados em 1,7 milhões, a maioria dos gastos teria sido bancada pelos prestadores de serviços de festas de casamento, um nicho no qual a cantora se deu bem e cobra até R$ 80 mil para shows na data especial de casais Brasil afora.
Apenas 20% da gastança saiu do bolso da noiva. A viagem para Abu Dhabi, de primeira classe, também foi presente. E claro que "o amor nos tempos das redes sociais" teve o embarque para Abu Dhabi devidamente registrado em um post no Instagram, diretamente das poltronas que viram leitos e com as devidas hastags de agradecimento/divulgação para companhia aérea e agência de viagens.
E Preta continuou sambando na cara dos recalcados. Escreveu uma legenda "tô nem aí" para a foto que mereceu mais de 46 mil likes: "Carinho, educação, mimos. Estamos chocados com a recepção no avião da @ethihadairways, eles colocaram pétalas de rosa na nossa cabine!!!", informou a cantora, sobre a primeira parada da viagem, que passa ainda pelas paradisíacas ilhas Maldivas.
Em outro post mandou um aviso para os espíritos de porco de plantão. "PS: aviso aos navegantes. Vou postar tanta mais tanta foto, quem achar chato, a porta de saída da internet é a serventia da casa!!"
Os ataques à cantora pelo enlace de sonhos chegou ao horror de um comentário numa rede social de uma "seguidora" tipo "exu", que veio a público desejar a infelicidade da noiva. "Desejo toda a maldição a sua vida", escreveu a invejosa, diante do sorriso de uma Preta em estado de graça. "E assim terminou o dia mais lindo e feliz das nossas vidas. Deus abençoou nosso amor e nossas família e amigos comemoraram e vibraram conosco, foi tudo muito mágico", escreveu a cantora no post que despertou tamanha negatividade de uma internauta afogada no mar de intolerância das redes sociais.
Só se pode concluir diante de tais reações que, no Brasil, como bem disse Tom Jobim, sucesso é ofensa pessoal. Felicidade, então, é um tapa na cara de uma gente que parece incapaz de dedicar ao outro um olhar que não esteja nublado pela inveja ou enviesado por desprezo a tudo aquilo que é diverso.
Eu gosto de Preta Gil. Ela tem atitude. Aplaudi a sua coragem de posar nua e exibir suas formas arredondadas, longe do padrão de beleza que diz que só as Gisele Bündchens são felizes.
Preta é feliz na sua pele parda e no seu "plus size". Já se submeteu a dieta em rede nacional durante um reality show no "Fantástico". Também viveu em tempo real e sob os holofotes seu sonho careta de casar aos 40 anos de véu e grinalda, cercada de pajens e com um batalhão de padrinhos tão ou mais famosos do que ela.
Preta sempre pagou o preço de ser quem é: filha de um gênio da música, ela resolveu trilhar o caminho do pai, Gilberto Gil, sem o mesmo talento, mas com uma garra que a fez ter relativo sucesso, apesar da voz limitada, compensada pelo carisma.
O fato é que Preta Gil se viabilizou como cantora e se firmou contrariando todos os prognósticos. E além disso leva no nome a marca de sua raça, em um país no qual o racismo é tão mais forte quanto mais camuflado.
O resto é inveja, "gordofobia", racismo e ignorância. Até de escrava ela foi chamada: um completo disparate, justamente quando desfilou linda e feliz vestida de princesa, de braços dados com um pai emocionado e cercada de uma legião de amigos. Dá-lhe Preta.