Folha de S. Paulo


Ioga e ginástica nas praças dariam benefícios às cidades além da saúde

Felipe Gabriel/Projetor/Folhapress
Agora Vai - Ioga/Pilates - Tonificando até a alma - Aula de ioga no parque Ibirapuera
Aula de ioga no parque Ibirapuera; prefeitura não acompanha nem incentiva ocupação de áreas públicas

Dezenas de pessoas levam tapetinhos coloridos para praticar ioga nas praças de Washington.

Morei perto de uma delas. O happy hour de cidadãos de idades e constituições físicas variadas é dedicado a alongamentos e meditação. Os instrutores são pagos pelos frequentadores. Não há placas de proibido pisar na grama: a verdinha serve até para abrigar piqueniques e outros esportes.

Com a cabeça de quem cresceu sob a burocracia brasileira, fui perguntar se precisavam de permissão da prefeitura, pagar pelo uso, ou se havia um catálogo com 800 parágrafos regulamentando a prática. Nada disso. Praça é para ser usada.

São Paulo tem engarrafamentos com hora marcada às 17h, 18h, e 19h, e antes e depois também. Tem redes de academias que se propagam como farmácias, mas onde muito aluno novo paga um semestre inteiro e só aparece para suar nas imediações do verão.

Ocupar as praças deveria ser prioridade para a prefeitura. Como Kassab e Haddad sabem, as vitrines de suas gestões foram projetos que dependeram mais de coragem do que de bilhões de reais. Da Cidade Limpa à Paulista Aberta.

As despesas com saúde pública têm ainda muito por degringolar. Com uma população cada vez mais longeva e sedentária, que ingere comida ultraprocessada, e passa o dia com o pescoço despencado, hipnotizado pelo celular, teremos batalhões de novos doentes nas unidades básicas de saúde.

Muitos septuagenários ficam vendo TV em casa porque nem as calçadas são hospitaleiras. Mais gente poderia ler um livro, namorar ou bater papo nas praças se fossem ocupadas até a noite. Gente gosta de ver gente.

A Pauliceia tem milhares de professores de educação física e toda uma indústria da boa forma. Que tal colocar a turma na rua? Além de prevenir problemas de saúde, os usuários fariam milagres pela manutenção das mesmas. Quem usa, cuida. Gente na rua cria olhos de vigilância que lugares desertos não têm.

Na praça Victor Civita, em Pinheiros, uma experiência patrocinada pela ViaQuatro e pelo escritório de advocacia Tozzini Freire oferece aulas gratuitas de pilates, ginástica funcional e ioga.

O embelezamento promovido por João Doria e seu Cidade Linda focou, por enquanto, em espaços que não são usados para convivência nem contemplação.

Do paredão verde da avenida 23 de Maio à fonte da Nove de Julho, dos Arcos do Jânio à praça Portugal, todos são lugares de passagem, mais vistos por quem está dentro de um automóvel. Não há um banco com encosto nesses locais.

Se o programa frenético de acúmulo de milhas do prefeito permitir, que ele dê atenção a um projeto singelo. O acelera da qualidade de vida está fora do carro.


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