Folha de S. Paulo


Pioneiro, edifício Azul e Branco é raridade na arquitetura dos Jardins

A Oscar Freire era uma pacata rua de sobradinhos e vilas de classe média em 1958, quando começou a ser construído o imponente Azul e Branco. A escalada das alamedas rumo à avenida Paulista e o verde do Jardim América podiam ser desfrutados dos andares mais altos, quando ficou pronto, em 1961.

Raros nos Jardins, mas comuns em Higienópolis, os traços modernistas do edifício se destacam. Os pilares de sustentação criam áreas cobertas para uso comum, vizinhas do espaçoso jardim. Os janelões matam de inveja os atuais condomínios "de luxo", com aquelas janelinhas sob medida para uma prisão. As sacadas curvas dão movimento à fachada, toda revestida por pastilhas de cerâmica.

O edifício é um dos 15 residenciais erguidos pela dupla Arão Sahm (1913-1986) e Guido Gregorini (1923-1996). O judeo-polonês Sahm, que imigrou adolescente para o Brasil, abriu sua construtora em 1951, após se formar pela Politécnica da USP, como engenheiro-arquiteto.

Para o seu primeiro prédio solo, ele convocou um concurso de arquitetura. O vencedor foi Gregorini, que se tornaria coordenador dos projetos de Sahm nos 15 anos seguintes.

O italiano chegou a São Paulo em 1948, recém-formado pela Escola de Arquitetura de Veneza. Entretanto, a revalidação de diplomas estrangeiros e o registro profissional podiam demorar mais de dez anos, em sintonia com diversas leis que desestimulavam a imigração. Gregorini nem tentou contornar o muro da burocracia brasileira. Para evitar processos e multas, todas as obras foram assinadas pelo amigo e chefe Sahm.

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AZUL E BRANCO
(1958)
r. oscar freire, 416


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